Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 056: Etnografias do catolicismo: práticas, rituais, experiências e trajetórias em perspectiva
Perspectivas etnográficas sobre as práticas congadeiras e sincretismo
Neste trabalho, objetivo apresentar as dinâmicas e relações das práticas congadeiras. Sendo elas,
festejos, organizados pelas comunidades negras, em devoção a santos/as como Nossa Senhora do Rosário, São
Benedito e Santa Efigênia, associados ao catolicismo e também, em alguns casos, à umbanda e ao candomblé.
Utilizam-se de danças, cantos, toque de instrumentos, bandeiras e outros objetos, assim como de performances
para afirmarem seu comprometimento festivo e devocional (SILVA, 2016; CORRÊA, 2018). Termos como Congadas,
Congado, Congo e Reinados são alguns dos nomes que se referem a essa modalidade festiva e devocional,
protagonizada por pessoas negras.
Existe uma enorme profusão dessas festas, sobretudo, no território mineiro, sendo identificados cerca de
1.174 grupos, conhecidos como moçambiques, congos, marujos, caboclos, catupés, vilão de lenço, guarda de São
Jorge, tamborzeiros. Segundo os antropólogos Rubens Silva (2010) e Daniel Silva (2016), cada um desses
segmentos possuem caraterísticas específicas em relação à vestimenta, aos objetos, aos instrumentos, à
musicalidade e às performances. Por exemplo, os grupos de Moçambique possuem instrumentos musicais
característicos as gungas, espécie de guizo amarrado nas pernas, e as patangomas ou patangomes, que são
chocalhos arredondados que lembram o formato de uma peneira (SILVA, 2012, p. 16); os grupos de Congo têm em
sua base rítmica com caixas, tamborins e chocalhos (SILVA, 2012, p. 16); já os grupos de Marinheiro e
Marujos possuem em suas músicas referências explícitas ao mar e à navegação.
Esses grupos, que podem ser chamados de ternos, bandas, embaixadas, entre outros, realizam em torno de 701
festas do Rosário em mais de 300 municípios (BRASIL, 2014). A quantidade de festas, grupos e localidades
indica profunda diversidade nas formas de manifestar devoção aos santos e conceber os festejos (CORRÊA,
2018; MORAIS, 2019). Consequentemente, as práticas congadeiras são expressivas dessa enorme variação de
formas de pensar e de fazê-las.
Nesse sentido, busco apresentar a multiplicidade de tais práticas ao focar nas formas em que o sincretismo
se apresenta nesta manifestação festiva. As descrições etnográficas estão ancoradas, sobretudo, em meu
trabalho de campo desenvolvido em Viçosa/MG (2019) e em Ituiutaba/MG (2020, 2021 e 2022).