ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 056: Etnografias do catolicismo: práticas, rituais, experiências e trajetórias em perspectiva
Perspectivas etnográficas sobre as práticas congadeiras e sincretismo
Neste trabalho, objetivo apresentar as dinâmicas e relações das práticas congadeiras. Sendo elas, festejos, organizados pelas comunidades negras, em devoção a santos/as como Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia, associados ao catolicismo e também, em alguns casos, à umbanda e ao candomblé. Utilizam-se de danças, cantos, toque de instrumentos, bandeiras e outros objetos, assim como de performances para afirmarem seu comprometimento festivo e devocional (SILVA, 2016; CORRÊA, 2018). Termos como Congadas, Congado, Congo e Reinados são alguns dos nomes que se referem a essa modalidade festiva e devocional, protagonizada por pessoas negras. Existe uma enorme profusão dessas festas, sobretudo, no território mineiro, sendo identificados cerca de 1.174 grupos, conhecidos como moçambiques, congos, marujos, caboclos, catupés, vilão de lenço, guarda de São Jorge, tamborzeiros. Segundo os antropólogos Rubens Silva (2010) e Daniel Silva (2016), cada um desses segmentos possuem caraterísticas específicas em relação à vestimenta, aos objetos, aos instrumentos, à musicalidade e às performances. Por exemplo, os grupos de Moçambique possuem instrumentos musicais característicos as gungas, espécie de guizo amarrado nas pernas, e as patangomas ou patangomes, que são chocalhos arredondados que lembram o formato de uma peneira (SILVA, 2012, p. 16); os grupos de Congo têm em sua base rítmica com caixas, tamborins e chocalhos (SILVA, 2012, p. 16); já os grupos de Marinheiro e Marujos possuem em suas músicas referências explícitas ao mar e à navegação. Esses grupos, que podem ser chamados de ternos, bandas, embaixadas, entre outros, realizam em torno de 701 festas do Rosário em mais de 300 municípios (BRASIL, 2014). A quantidade de festas, grupos e localidades indica profunda diversidade nas formas de manifestar devoção aos santos e conceber os festejos (CORRÊA, 2018; MORAIS, 2019). Consequentemente, as práticas congadeiras são expressivas dessa enorme variação de formas de pensar e de fazê-las. Nesse sentido, busco apresentar a multiplicidade de tais práticas ao focar nas formas em que o sincretismo se apresenta nesta manifestação festiva. As descrições etnográficas estão ancoradas, sobretudo, em meu trabalho de campo desenvolvido em Viçosa/MG (2019) e em Ituiutaba/MG (2020, 2021 e 2022).