ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 090: Religiões afro-ameríndias entre Norte e Nordeste do Brasil: territórios, trânsitos e práticas
O fação cortou embaixo e a bananeira caiu!
O título desse trabalho é também um trecho de uma ladainha da capoeira, nela aborda-se a necessidade de compreender as raízes como algo fundamental para a existência do sujeito e sobrevivência da comunidade. Nessa perspectiva, a aproximação do meu objeto de pesquisa, mito do Zé Pilintra, possibilita que eu desenvolva alguns floreios textuais para pensar a figura do Zé Pilintra enquanto agente social que personificar a construção da identidade carioca e como agente místico que se presentifica nos cultos religiosos de matriz afro-ameríndia. A invocação do Zé Pilintra por meio da cantiga faz referência as muitas narrativas que contam que quando em fuga na Bahia, em Pernambuco ou em Minas Gerais, José Pereira dos Anjos, um de seus muitos nomes, se transformava em bananeira a fim de despistar seus perseguidores. Desse modo, o que busco fazer aqui é um exercício para compreender o mito do Zé Pilintra a partir da ideia de combinatória (Calvino, 1977) e a quadratura (Levi, 1977) sobre o referido mito. Para tal, as narrativas dos praticantes das religiões de matriz afro-ameríndia e das entidades que se apresentam nos cultos a partir da energia ou falange da malandragem nas giras que acontecem no bairro da Lapa no Rio de Janeiro. Recorro a dados etnográficos extraídos do meu campo de pesquisa por meio de observações e entrevistas com as entidade Zé da Lapa, Zé Pretinho1, Zé Pretinho2 e Zé camisa Preta, a debate realizado em grupo de Whatzapp e por fim as narrativas que se originam no imaginário popular acerca do Zé Pilintra e malandragem. Importa saber que não é interesse debater ou aprofundar sobre a origem ou legitimidade de Zé Pilintra, esse trabalho essencialista já foi empreitado de vários autores que por fim já se deram por vencido (Augras, 1999, p.43 apud Ligiéro, 2004, p.26). Há neste exercício certo desapego pela cronologia dos fatos e das narrativas, assim, operarei a partir da categoria do trickster como um ser que usa de suas artimanhas para produzir ilusões, para enganar, assim promove oposições e contradições para possibilitar a mediação entre o mito e os sujeitos. Assim o trickster é um mediador e essa função explica o fato de ele manter algo da dualidade que tem por função superar (Lévi-Strauss,1979, p.244) para dar conta de questões referentes a lacunas temporais e espaciais. Aqui seguiremos os rastros das transformações do mito de Zé Pilintra e suas variantes que possibilitam o nascimento de entidades que surgem a partir desse mito.