Trabalho para Mesa Redonda
MR 30: Etnografias dos negacionismos e das alt-sciences: Perspectivas a partir da antropologia da ciência
Construindo evidências, formando terraplanistas: mídias, públicos e a defesa de uma ciência de verdade da Terra Plana
Em meados da década de 2010, uma onda de disseminação do modelo da Terra Plana tomou forma em
plataformas digitais em diversos países, incluindo o Brasil. Seus defensores em sua imensa maioria,
pessoas sem formação ou atuação na ciência oficial afirmavam que o contato recente com o nascente
ecossistema digital dedicado ao assunto (formado principalmente por canais, páginas e grupos distribuídos
por plataformas como YouTube, Facebook e WhatsApp) havia sido decisivo para disparar e consolidar um
processo de despertar "para a verdade". Neste trabalho, tomo essa dinâmica de formação de um público
terraplanista no Brasil como ponto de partida para a análise de vídeos de YouTube dedicados à apresentação
de supostas evidências de um mundo plano, considerando o papel de agências estéticas e algorítmicas na
construção de artefatos audiovisuais de intenção (e potencial) persuasivo. Interessa aqui compreender o
lugar ocupado por aquilo que terraplanistas nomeiam como ciência de verdade (em oposição à ciência oficial,
mas mantendo com ela uma relação mimética que produz modificações e distorções de suas retóricas e práticas)
no universo mais amplo da formação estética (Meyer, 2019) a partir da qual emergiram subjetividades
terraplanistas, apontando, mais especificamente, os intercâmbios desse modo de conceber ciência com uma
dimensão religiosa e o seu embasamento numa lógica conspiratória.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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