Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 049: Ensino e aprendizagem da antropologia na educação básica
A alteridade em questão: percepções de um professor carioca na educação básica em Goiás
Neste trabalho, evoco as minhas experiências interpessoais no interior da sala de aula da educação básica, como professor regente da disciplina Sociologia, com os alunos/as/es da Escola Estadual Polivalente Frei João Batista, localizada no município de Anápolis no Estado de Goiás. Nesse encontro entre professor e aluno, narro as minhas vivências corporais com as turmas do 1° ano, 2º ano e 3º ano do Ensino Médio, trazendo para o centro da reflexão a relação de alteridade entre um professor carioca e, principalmente, alunos goianos do sexo masculino. O termo alteridade vem do vocábulo latino alteritas, que significa ser o outro. Ele designa o exercício de colocar-se no lugar do outro, de perceber o outro como uma pessoa singular e subjetiva. De imediato, ao me encontrar com esses alunos na sala de aula e proferir as primeiras palavras sobre as temáticas Cultura, Movimentos Sociais e Política, Poder e Estado, respectivamente temas relacionados ao conteúdo da 1ª, 2ª e 3ª séries, o que mais chamava a atenção deles não era o conteúdo em si da Sociologia, mas sim o meu sotaque carioca e as curiosidades ou dúvidas sobre como era nascer e viver na cidade do Rio de Janeiro. Então, logo após uma primeira explanação sobre como se desenvolveria o componente curricular naquele bimestre, os alunos começavam a me questionar com as seguintes perguntas: Professor, você é carioca?, Onde você morava no Rio de Janeiro?, Lá é muito violento mesmo?, Professor, diz aí, é biscoito ou bolacha?, Professor, fala isqueiro, aí. etc. Esses questionamentos revelavam a marca da alteridade que a minha presença corporal causava naquele espaço escolar. Era visível e audível como o meu sotaque carioca que puxa o s de maneira acentuada, para eles, gerava uma mistura de admiração, incômodo e interesse pela diferença. E essas perguntas não fizeram parte apenas do nosso primeiro encontro. Essas indagações são recorrentes ao longo de cada encontro semanal com as turmas e buscam de alguma maneira compreender o professor carioca. Além disso, esses encontros antropológicos com a alteridade revelam que as aulas de Sociologia são cercadas por essa relação de reconhecimento da existência de pessoas e culturas que são singulares, ou seja, que pensam, agem e entendem o mundo de maneiras distintas. Dessa forma, o objetivo desse trabalho é trazer à tona esse encontro de alteridade que acontece a cada semana nas aulas de Sociologia, reconhecendo que essa reunião de diferentes culturas e formas de estar o mundo pode proporcionar um exercício prático para a formação de uma sociedade justa, equilibrada, democrática e plural, onde a diversidade cultural seja celebrada e respeitada por todos os seus participantes.