ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Trabalho para SE - Simpósio Especial
SE 05: Antropologia visual, re-existências e mundo porvir
Naufrágios, pneus, parrachos, riscas e outros pesqueiros: audiovisual e percepção embarcada no Rio Grande do Norte e Paraíba.
Desde 2015, acompanhamos pescadores que navegam em jangadas pela costa oceânica da Paraíba e do Rio Grande do Norte, desenvolvendo dispositivos de produção audiovisual a partir de suas habilidades perceptuais e artes de notar: seus modos de conhecer dinâmicas ambientais que emergem no encontro de pesqueiros no interior da plataforma continental oceânica, através de suas embarcações e instrumentos de pesca. Retornando a campo em 2023, imaginávamos encontrar em evidência as marcas na pesca artesanal de eventos críticos, como a pandemia de Covid-19 e o desastre com a chegada de manchas de óleo às praias nordestinas em 2019 e 2020. O que encontramos em campo foi a vitalidade da pesca artesanal, com as ciobas, as bicudas, os serras, as mariquitas, e outros peixes no convés das jangadas e na cadeia de comércio na praia. Mas encontramos também ausências sentidas, de mestres de navegação cuja saúde não teve a mesma capacidade de renovação das embarcações e dos pesqueiros. Nessa apresentação, trago algumas reflexões sobre o que aprendemos com jangadeiros sobre a ecologia dos pesqueiros, assembleias mais que humanas de vida marinha em torno de materiais submersos, de recifes a naufrágios e outros materiais “botados”. Frequentar onde e quando “o peixe vem comer”, apresenta desafios: a navegação orientada por marcos na paisagem; o posicionamento da jangada e das linhas em confluência com a maré do peixe; acompanhar as notícias de cada pesqueiro. As escolhas de qual pesqueiro visitar levam em conta sua capacidade de se renovarem, de serem visitados por “qualidades” de peixes que frequentam gradientes de profundidade na plataforma continental, dos parrachos e tassis às riscas e paredes, próximos ou muito distantes da costa. Leva-se em conta a resistência da embarcação e do corpo dos próprios pescadores, que nem sempre se renovam, como os pesqueiros. Buscamos transpor ao audiovisual esse saber preciso sobre a vida submersa em uma antropologia mais voltada para a ação e as relações. No mar, a precisão da navegação tem que lidar com a abertura para os imprevistos da vida na maré, algo que perturba também a noção de controle expressa na ideia de dispositivo audiovisual. Essa reflexão é parte da produção do documentário Maré do peixe, que realizei junto com Gabriel Coutinho Barbosa, com edição de som de Viviane Vedana (CANOA UFSC e INCT Brasil Plural – CNPq). Com câmeras Gopro, DSLR e gravador de áudio a bordo, abaixo ou em torno das jangadas, perseguimos as artes de notar dos pescadores: em conversas enquanto refazem embarcações; em plano sequência na beira da praia seguindo suas formas de comércio; em deslocamento em paralaxe a bordo da jangada para percepção embarcada horizontal do pesqueiro; em imagens subaquáticas para percepção vertical do pesqueiro.