Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 027: Antropologias da Paisagem: Conhecimentos, Relações e Políticas Multiespécie
"O que muda quando a paisagem muda?": Uma etnografia multiespécies no Dique de Cabedelo, PB
Banhado pelas águas salgadas do oceano atlântico de um lado, e pelas águas doces do Rio Paraíba do outro, o Dique de Cabedelo - localizado no litoral norte paraibano no município de Cabedelo - é uma paisagem em constante movimento, desde o cenário áqueo até suas faixas de areia. Se constituindo como um dos cartões postais da Paraíba, o dique é um espaço de lazer e sociabilidade, de encontros e desencontros. É também uma paisagem em que se desenha um grande tráfego de embarcações aduaneiras, que perpassam as águas doces até o Porto de Cabedelo, seguindo o oceano Atlântico. Com uma história marcada pela caça às baleias no século XX, o dique se demarcou como atrativo para a pesca, seja ela legal (ou não), seja esportiva (ou não). Tendo em vista que a dimensão do atrativo pesqueiro é uma constante presente no local, percebe-se uma relação de simbiose, nutrida pelo envolvimento não apenas do pescador e do pescado, mas também de outras vidas, como os botos e as gaivotas e os pequenos vórtices que se formam nessa interdependência com os que estão no solo, no mar, e nos céus. No entanto, desde 2020 uma construção em grande escala circunda as adjacências do dique. E, a partir de 2021, foi divulgado que trata-se da construção de uma orla para expandir o turismo local. À luz de uma etnografia multiespécies (Kirksey, Helmreich, 2020) e do desenho como artefato de análise etnográfica (Azevedo, 2016), este trabalho analisa as nuances de tais reformas e seus impactos nas dinâmicas das relações e socialidades dos seres que transitam e habitam o dique, sejam eles humanos ou não humanos. Também busco desenvolver a ideia de ondas de concreto como conceito chave para análise que permite entender a troca da terra pelo cimento e, com isso, o esquecimento da mata e da areia. Trago como questionamento: o que muda quando a paisagem muda? E para buscar responder a essa indagação, atento para as temporalidades e os ritmos dos sujeitos humanos e não humanos que de algum modo experienciam os eventos que ocorrem no dique.