Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 062: Fronteiras e fabulações: antropologias especulativas e experimentos etnográficos
O corpo da cidade: estudos visuais para um filme
Neste ensaio retomamos a trajetória de uma ideia, do seu primeiro insight até a produção de um projeto
de webfilme contemplado pela Lei Paulo Gustavo gerida pela FUMBEL em 2024. A arquitetura como parte do corpo
da cidade de Belém, que vem sofrendo modificações constantes e demais arruinamentos produzidos pelos
elementos humanos e naturais e uma projeção de futuro sobre como este mesmo corpo pode reagir à eventos
climáticos inesperados.
Seguindo a linha de raciocínio, da turbulência da realidade filtrada pelo prisma da especulação e
transformada, não em futurologia, mas em um suplemento do real, busco imagens que possam ser transformadas
em filmes a partir de derivas pelas cidades onde vivi.
Tive meu primeiro contato com a teoria do antropólogo inglês Tim Ingold: para o autor, o mundo é composto
por coisas e seus materiais, que se intrelaçam em relações diversas e estão em constate processo de
arruinamento e crepitude. Foi essa ideia de crepitude constante que me saltou ao olhos ao passear pelo
centro de Belém pós pandemia. Impulsionada pela publicação dos editais da Lei Paulo Gustavo gerenciados pela
Fundação Cultural do município no final de 2023, escolho a premiação para Agentes Culturais e resolvo
produzir um webfilme1 de três minutos que dê alguma resposta à minha curiosidade sobre fabular a cidade após
um evento climático de proporções catastróficas.
A partir de fotos começo a produzir o webfilme: escolho o vertical como quadro para enfatizar a natureza dos
prédios, mas também para acolher o uso instintivo do celular, que é a verticalidade; aplico filtros para
salientar o aspecto de catástrofe e escolho a narração como forma de contar essa história. Assim, desenvolvi
uma videocarta, em que uma Georgiane do futuro volta a sua cidade natal depois de um episódio traumático de
fundo climático e descreve para sua filha o estado geral das coisas.
Fabulando sobre essa paisagem arquitetônica que é alterada bruscamente, desenvolvo uma personagem que diz
reconhecer sua antiga cidade em meio ao caos, refletindo sobre o fato de que o lugar esteja se transformando
em algo que ela agora desconhece e estranha. O fim de uma era familiar se apresenta. Vale lembrar da frase
de Paul Klee citada por Tim Ingold: a arte não reproduz o visível; ela torna visível (tanto o problema
quanto seu antídoto).
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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