Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 053: Estudos Etnográficos sobre Cidadania
Encarando a violência através de práticas restaurativas: uma pesquisa antropológica sobre a
intensificação de violências em escolas californianas
Este trabalho analisa as estratégias para prevenir a violência escolar nas escolas públicas da
Califórnia, concentrando-se nos desafios colocados pela suspensão prolongada das aulas presenciais.
A violência escolar tornou-se um problema público em muitos contextos nacionais nas últimas décadas, embora
sua manifestação se dê de formas diferentes e receba tratamento diverso por parte dos responsáveis por
administrá-la nas escolas e nos órgãos da burocracia educacional. Nos Estados Unidos, o crescimento da
violência escolar alcançou um novo patamar na década de 1990 com os casos de tiroteio (school shooting) em
escolas públicas e privadas do país.
Mais recentemente, com o advento da pandemia, a Califórnia foi o estado americano que ficou mais tempo com
as aulas presenciais suspensas. O prolongado período de aprendizagem remota na Califórnia levou a
dificuldades no reengajamento dos alunos após o seu regresso aos campi físicos, resultando num aumento de
incidentes envolvendo violência entre estudantes e professores. Para enfrentar e prevenir tal violência,
muitas escolas mudaram da abordagem tradicional de tolerância zero para o paradigma da justiça restaurativa.
As práticas restaurativas enfatizam a reparação de danos e a restauração de relacionamentos, em vez de
aplicar medidas punitivas aos estudantes que cometam infrações às regras escolares, como a prática de
violência. Vários distritos escolares da Califórnia adotaram as práticas restaurativas, oferecendo
treinamento aos educadores para renovarem seus métodos disciplinares. Essas estratégias priorizam a
construção de um senso de comunidade, promovendo a empatia e incutindo responsabilidade entre alunos e
funcionários. Busca-se demonstrar como esses conceitos da justiça restaurativa foram aplicados nas escolas
públicas da Califórnia no contexto de pós-pandemia, especialmente nas chamadas escolas alternativas
americanas, que recebem estudantes com problemas de aprendizagem ou disciplinares. Os dados apresentados
baseiam-se em pesquisa etnográfica realizada no segundo semestre de 2022. A pesquisa envolveu entrevistas,
observação direta em quatro escolas públicas de ensino médio, conversas e entrevistas com policiais, agentes
de segurança, profissionais de organizações sem fins lucrativos envolvidas em projetos de violência escolar
e a análise de bancos de dados de violência escolar na Califórnia.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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