Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 010: Antropologia da percepção e dos sentidos
Ver, ouvir e fotografar: um relato a partir de derivas etnográficas no jogo Alba: A Wildlife Adventure
Este trabalho é um ensaio etnográfico experimental sobre/no jogo Alba: A Wildlife Adventure (2020) em que arrisco uma tradução da minha experiência de jogabilidade, inserindo capturas de tela e colagens sonoras a partir de derivas que realizei nas regiões do mapa, analisando também as discussões ambientais abordadas pelo jogo.
Alba a personagem jogável é uma menina que deseja impedir a construção de um hotel de luxo em uma área de preservação ambiental na ilha mediterrânea Pinar del Mar, onde seus avós residem e onde ela costuma passar as férias. Nesse percurso, somos desafiados/as a realizar uma série de ações como retirar os resíduos espalhados na ilha, fotografar animais, reconstruir bebedouros para pássaros e placas de identificação, dentre outras atividades que nos levam a concluir o objetivo principal do jogo que é construir uma credibilidade na comunidade e coletar 50 assinaturas para entregar um abaixo-assinado para o prefeito.
Voltado para o público infantil, Alba: A Wildlife Adventure é um jogo que promove uma conscientização e percepção ambiental que se aproxima com as artes de notar (Tsing, 2019; Haraway, 2022). Todos os elementos de game design (cenário, ambientação, roteiro, trilha sonora etc.) incentivam as/os jogadoras/es a andar pela ilha, seja para cumprir as missões do jogo, ou para observar e contemplar a paisagem de cada região presente na ilha, nos convidando a prestar atenção em cada detalhe (Ingold, 2000).
Andar pela ilha é uma imersão sensorial (sonora, auditiva e tátil), mas há uma outra característica bem interessante. Inspirado na prática de observação de aves (birdwatching), é proposto uma missão de fotografar 62 animais com um celular para completar as informações de um catálogo que recebemos do avô de Alba e que muito se assemelha com a Wikiaves , estabelecendo uma relação entre jogador, câmera e assunto (sendo em sua maioria pássaros, mas há também mamíferos e outras ordens de animais) em uma perspectiva engajada e responsável de documentar a fauna e flora locais.
Por fim, compreendo que, apesar do jogo promover uma experiência educativa de conscientização ambiental e responsabilidade cidadã, muitas dessas ações estão pautadas em uma abordagem ecocívica (Sauvé, 2012) que individualiza e fragmenta a possibilidade de observá-las enquanto questões infraestruturais complexas. No entanto, é bastante interessante a maneira pela qual o enredo não oferece soluções mágicas: mesmo entregando o abaixo-assinado, as obras já tinham começado e o que resta são infraestruturas em ruínas a céu aberto, dilacerando o verde da Reserva Ambiental.