ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 044: Dialéticas da plantations e da contraplantation: expropriação, recusa e fuga
Re-criando na plantation: uma análise sobre projetos de restauração de florestas da Mata Atlântica em duas localidades do estado do Rio de Janeiro
A Mata Atlântica é comumente descrita como um dos biomas mais ricos em diversidade de vida do mundo, o que atesta sua complexidade em termos de relações interespécies. Contudo, passados séculos de exploração de seus ambientes por atividades coloniais e industriais, o bioma como um todo encontra-se reduzido a 12,4% de sua cobertura original. O alcance dessa devastação se reflete na extinção de espécies e no desaparecimento de interações necessárias para a conservação de seus ecossistemas fazendo com que os diferentes esforços de restauração ecológica empreendidos ao longo do tempo representem experiências complexas de re-criação, cuja investigação nos leva a observar a articulação entre muitos atores. Nesse sentido, nosso trabalho tem por objetivo analisar diferentes projetos de restauração de florestas de Mata Atlântica empreendidos em paisagens anteriormente arruinadas por plantations em duas localidades do estado do Rio de Janeiro, buscando evidenciar o envolvimento de atores humanos e não-humanos nos esforços de regeneração dessas florestas. No presente, os debates em torno do Antropoceno nos convocam a prestar atenção às perturbações ecológicas e climáticas decorrentes de atividades humanas, observáveis em praticamente todas as paisagens que recobrem a Terra. Nesse sentido, ao tomarmos a Mata Atlântica do Rio de Janeiro como ponto de referência, torna-se indispensável olharmos para as heranças coloniais, para as marcas das antigas plantations nas paisagens atuais e para as ruínas desse modelo pautado na exploração simultânea de ambientes, de seres e de pessoas. A partir de uma abordagem histórica e etnográfica, pretendemos discutir os legados das plantations nas atuais paisagens de Mata Atlântica do Rio de Janeiro, bem como refletir sobre projetos de restauração ecológica em Cachoeiras de Macacu e na cidade do Rio de Janeiro.Nas diferentes iniciativas analisadas, as experiências de restauração ecológica envolvem não apenas intencionalidades humanas, mas também as atividades de muitos seres sejam estes pioneiros, ferais ou reintroduzidos. Assim, é de nosso interesse discutir em que medida esforços humanos de restauração, acompanhados por dinâmicas mais-que-humanas, tornam possível uma experiência de contra-plantantion. Desse modo, pretende-se não apenas caracterizar o envolvimento desses outros seres nos projetos de restauração de florestas, como também discutir em que medida e escala tais projetos possibilitam a existência de assembleias multiespécies que permitam romper com a homogeneização e hierarquização imposta às paisagens pelas plantations, de modo a produzir refúgios de habitabilidade em meio aos terrores ambientais representados pelo Antropoceno/Plantationceno.