ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 050: Entre arte e política: articulações contemporâneas em pesquisas antropológicas
O levante descolonial metaleiro na Améfrica / Abya Yala
Observa-se na América Latina o fortalecimento do estilo musical Heavy Metal enquanto meio de expressão e ação no engajamento em lutas e movimentos de resistência descoloniais, antirracistas, feministas, ambientalistas, entre outros. Segundo Nelson Varas-Díaz, atualmente um dos maiores especialistas no assunto, tal fenômeno ainda é bastante negligenciado em trabalhos acadêmicos que discutem esse estilo musical. Nesta presente pesquisa, busca-se investigar como essa luta vem acontecendo na cena Heavy Metal brasileira, especialmente a partir da perspectiva antirracista de diverso(a)s metaleiro(a)s negro(a)s. Em sua dimensão mainstream”, ou seja, aquela que abriga o universo de bandas com maior visibilidade, poder aquisitivo e poder de influência, ainda é notável no Heavy Metal a superioridade numérica de pessoas de cor branca, especialmente homens, em posições de destaque. Além disso, as temáticas tratadas nas músicas (deuses de panteões europeus, por exemplo), bem como a predominância da língua inglesa nas letras, mesmo em países do chamado sul global”, mostram o quanto esse estilo musical é representativo da colonialidade ainda existente. No entanto, por ser um fenômeno cultural marcado por um evidente potencial de transgressão e radicalidade, ao mesmo tempo em que reproduz padrões estéticos e discursivos do norte global”, esse estilo musical também vem produzindo fortes movimentos de resistência e de reconstrução e valorização identitária, numa perspectiva descolonial. Na presente pesquisa, de caráter etnográfico, a partir de entrevistas e do acompanhamento de coletivos (Metaleiras Negras, Preto no Metal), bandas (Punho de Mahin, Oligarquia) e produtore(a)s e seus eventos (como o festival de bandas O Rock é Preto”), são analisadas as lutas de caráter descolonial (especialmente antirracistas) que vêm sendo travadas no seio do movimento Heavy Metal. Até o momento foi possível identificar uma tendência de fortalecimento desses agentes na cena, cujas ações se caracterizam pela prática do que o autor Nelson Varas-Díaz classifica como diálogos descoloniais extremos”, compreendendo a junção de trocas horizontais de ideias e informações, posturas expressamente decoloniais e estéticas radicais, geralmente chocantes para a sociedade em geral. Pretende-se, a partir da pesquisa, contribuir para o debate sobre a atualidade da questão do colonialismo e suas consequências para a nossa sociedade, como o racismo, bem como sobre a diversidade de formas de luta e resistência, tendo como ponto de partida a análise da cena Heavy Metal, que se constitui como ambiente privilegiado para a observação de diversos avanços e retrocessos nas tentativas de construção de outros mundos possíveis.