Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 094: Saberes Localizados, escritas de si e entre os seus: desafios político-teóricos e metodológicos nas práticas etnográficas
Pesquisada agora e Pesquisadora: Antropóloga Quilombola Kalunga e agora?
Neste artigo, empreendo uma análise reflexiva sobre minha experiência acadêmica enquanto Quilombola Kalunga,
doutoranda em Antropologia Social na Universidade de Brasília. O mesmo foi inspirado na disciplina Métodos e
Técnicas de Pesquisa em Antropologia, ministrada pela professora Dra. Soraya Resende Fleischer no primeiro
semestre de 2023.
No decorrer deste texto, pretendo apresentar minhas reflexões e percepções sobre a intersecção entre minha
identidade étnica e cultural e o ambiente acadêmico, tanto como estudante quanto como professora doutoranda
na disciplina de Introdução à Antropologia. Para isso, utilizarei uma abordagem autobiográfica coletiva,
incluindo a escutavivência de uma intelectual quilombola ( SILVIA 2023) e as cartas produzidas pelos
estudantes da graduação, em que fui afetada( FAVRET-SAADA 2005).
Trata-se de uma escrita circular, espiralada ou até mesmo sem forma, mostrando a importância da oralidade e
da vivacidade em nosso cotidiano quilombola, contrastando com a lógica temporal urbana. Por meio de uma
carta dirigida a um "destinatário desconhecido", compartilharei minhas memórias da infância no quilombo,
destacando os valores de cuidado, afeto e conexão com a natureza, e principalmente com os ensinamentos do
ser tão velho, CERRADO, dentro da universidade.
Além disso, neste momento, convido todos a seguirem na estrada cavalheira, cientes de que essa caminhada é
marcada por obstáculos e apoios. Espero que estejam preparados fisicamente, pois será uma jornada longa. O
Antônio Bispo dos Santos - Nego Bispo, relator/intelectual Quilombola de Saco Curtume, Piauí, já nos lembra
que somos começo, meio e começo, e meu grande desafio é manter a linearidade na escrita. Mas por que
buscá-la? A circularidade nos permite revisitar e reformular pensamentos, e a repetição na circularidade
também reforça os argumentos. Vamos seguir de forma circular, espiralada, as formas da natureza ou mesmo sem
definição de forma. Poderia me posicionar como uma outsider within (COLLINS, 2016), porém carrego em minha
corporalidade e territorialidade a minha pretitude e etnicidade, ouso a falar que sou outsider within
QUILOMBISTA em movimento na universidade.