ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 010: Antropologia da percepção e dos sentidos
Abençoando pelo áudio: sensorialidades da escuta evangélica em grupos de oração no WhatsApp
Todos os dias, mensagens de texto e de áudio, emojis, figurinhas, gifs, vídeos e fotos enviados por quem pede orações e destinados a quem precisa ser alcançado pela força de milagres divinos, são enviados em “grupos de oração” evangélicos no WhatsApp. Acompanhar este cotidiano através de uma etnografia realizada em dois destes grupos, ambos exclusivamente formados por mulheres, possibilitou compreender o lugar central do envio de orações, pregações e testemunhos em mensagem de voz como tecnologias de aperfeiçoamento da virtude religiosa. A partir de análises resultantes minha tese de doutorado em Antropologia Social sobre as relações entre religião, gênero e tecnologias digitais, exploro neste trabalho como os áudios do “zap” tem propiciado o desenvolvimento de disposições éticas relacionadas à escuta e reconduzido experiências coletivas de “progressão moral” (Hirschkind, 2021). Ao gravar, compartilhar e ouvir o áudio para orar junto, mulheres evangélicas pentecostais têm aprimorado habilidades sensoriais envolvidas no exercício diário de suas intimidades com Deus. Diante das “reconfigurações da privacidade” (boyd, 2014) provocadas pelos usos de smartphones e aplicativos de mensagem, reflito sobre como estes sentidos de intimidade são mobilizados por engajamentos sensoriais em que os áudios ganham relevância significativa nas práticas de evangelização online. A experiência de gravar e ouvir mensagens de voz no WhatsApp tem transformado smartphones em importantes “campos de batalha”, arena propícia para a emergência de novas maneiras de exercer a autoridade religiosa e narrar coletivamente o sofrimento. Os elementos que analiso neste trabalho envolveram centralmente a relação dos áudios com a ritualização produzida através de diferentes materialidades religiosas que se combinam aos usos do celular, tais como óleos de unção, bíblias, sucos de uva e outros objetos utilizados para “guerrear” em oração. Meu principal objetivo com este trabalho é dialogar com debates sobre as mediações entre pessoas, mídias e materialidades, explorando modos pelos quais a paisagem sonora dos áudios do “zap” tem modulado performances devocionais no cotidiano evangélico e promovido, assim, reconfigurações na vida político-espiritual de mulheres pentecostais.