Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 027: Antropologias da Paisagem: Conhecimentos, Relações e Políticas Multiespécie
Notícias do subsolo: paisagem, taltuzas e relacionamentos multiespécie num território rural da Costa Rica
Neste artigo, faço uma reflexão crítica do conceito de "paisagem" com base na incorporação de uma perspectiva multiespécie. Proponho que os agenciamentos e as capacidades performativas das vitalidades outras-que-não-humanas são aspectos relevantes no estudo das redes de relacionamentos em torno das quais os territórios de coexistência multiespécie são (re)configurados. Esta discussão continua elementos analíticos formulados em minha pesquisa de doutorado. Retomo os relacionamentos humano-taltuzas que ocorrem em um território rural da Costa Rica para construir um estudo de caso empírico. As taltuzas (Rodentia: Geomyidae) são roedores fossoriais. Na região norte de Cartago (província da Costa Rica), indivíduos da espécie Heterogeomys heterodus constroem túneis em terrenos destinados à produção de hortaliças, nos quais entram com a intenção de se alimentarem. Isso levou à sua designação como "espécie-praga" nas atividades agrícolas. Ao mesmo tempo, a espécie é endêmica do país e tem uma área de distribuição limitada, o que levou à sua inclusão na lista de espécies ameaçadas ou com populações reduzidas. Neste artigo, mobilizo essa ambivalência para argumentar que "desenvolvimento", "sustentabilidade" e "progresso" são categorias antropocêntricas que precisam ser repensadas em relação às contingências e à complexidade dos mundos de vida situados. Por outro lado, as taltuzas propõem narrabilidades sobre os modos de habitar que enriquecem nossa compreensão dos "paisagens outras-que-não-humanas", e até mesmo podem nos ajudar a entender melhor a relação entre os ciclos do carbono e do nitrogênio e os solos.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
Associação Brasileira de Antropologia - ABA