Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 050: Entre arte e política: articulações contemporâneas em pesquisas antropológicas
Canções Mineiras e o Carnaval de Belo Horizonte: A Cidade como Movimentação
Acompanhando minha pesquisa de dissertação, a proposta deste trabalho é falar sobre o Carnaval de Belo Horizonte e das letras das canções mineiras, com o intuito de me aprofundar na efervescência cultural vivida pela cidade, nos últimos 15 anos; e catalisada pelo surgimento da Praia da Estação. A Praia foi uma manifestação popular, surgida a partir de uma performance teatral, que tinha como objetivo transformar o espaço da Praça da Estação em um local para banhistas. Como forma de propor novas ocupações do território urbano. A manifestação, que surgiu ao final de 2009, ganhou forças em 2010, junto ao Carnaval de Beagá. Isso ocorreu, pois a partir da Praia da Estação, muitas estudantes universitárias, artistas e ativistas políticos, passaram a se conhecer, e com isso, novas coletividades, formadas graças aos blocos de Carnaval, começaram a surgir, agregando gradativamente, também pessoas periféricas. O número de blocos e foliões na cidade avançou de forma exponencial. E em um intervalo de menos de 15 anos, Belo Horizonte já tem hoje um dos maiores carnavais do Brasil, tanto em número de público, quanto em número de blocos.
Um dos objetivos desta pesquisa é tratar deste crescimento das festividades na cidade, como uma efervescência cultural por qual passa Belo Horizonte atualmente. Para isso, trabalharemos com a ideia de que o Carnaval da cidade pode ser definido como uma Movimentação Artístico-Cultural. Movimentação, compreendida com um sentido diferente de Movimento Artístico, pois enquanto o Movimento é algo fechado, com número delimitado de participantes e orientações objetivas das preocupações estéticas de seus membros; uma Movimentação é algo mais transversal, aberto a porosidades, e com associações mais livres. Portanto, utilizamos nesta pesquisa, como Movimentação Artístico-Cultural, três categorias para defini-la: Vanguardista, Rizomática e Antropofágica. Vanguardista, no sentido de Gonzalo Aguilar, como algo que rompe com a estética dominante de sua contemporaneidade; Rizomática, por ser algo difuso, múltiplo e horizontal, no qual a organização entre os blocos se dá de maneira descentralizada e; Antropofágico, pois o que ocorre é uma apropriação do espaço e das canções populares, de modo a afirmar novas formas de sociabilidade e ocupações da cidade.
Com o objetivo de ter uma etnografia suscinta das festas e shows de Carnaval, e a partir também da realização de entrevistas com artistas e foliãs, o material empírico que irá orientar este trabalho são as letras das canções mineiras contemporâneas, que foram selecionadas, a partir de um número total de 1800 músicas, disponíveis na plataforma Spotify e coletadas a partir de certos critérios metodológicos. Deste total, foram escolhidas cerca de 40 músicas, para serem trabalhadas nesta pesquisa.