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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 079: O visível e o in(di)visível: ciências, conhecimentos e produções de mundos.
Comprovadamente ineficaz, medicina baseada em evidencias: como os estudos sobre Hidroxicloroquina para o tratamento de COVID-19 surgem no Brasil e o que os cientistas tem a dizer sobre essa hipótese
Durante a pandemia de COVID-19 houve uma série de pesquisas e investimentos principalmente nas áreas da saúde em busca de alternativas para sobreviver as incertezas impostas durante a crise sanitária global, que foi desencadeada após a declaração da pandemia. No Brasil teve-se uma longa discussão sobre o uso compassivo e off-label de alguns medicamentos em especial destaque a Hidroxicloroquina, os vermífugos e antiparasitários, tais como Ivermectina. Nos ensaios clínicos, caracterizados como estudos que analisam a eficácia de determinadas intervenções, há uma série de pesquisas envolvendo tais medicamentos. Sendo assim, este estudo tem o objetivo de refletir sobre a construção de um saber científico durante a pandemia de COVID-19 no Brasil. Especificamente, compreender o que, como e as justificativas que alguns cientistas levaram ao propor estudos que avaliaram a eficácia desses medicamentos no tratamento da COVID-19. Neste trabalho analiso e reflito a partir da leitura e sistematização de 15 publicações de um grupo de pesquisa na área da saúde que propôs avaliar a eficácia de diversos medicamentos para o tratamento de COVID-19, incluindo a Hidroxicloroquina. Além dessas publicações, analiso dez transcrições de entrevistas realizadas com nove pesquisadores deste grupo, feitas por mim entre setembro de 2022 e fevereiro de 2023. Com este material faço uma reflexão sobre os ensaios clínicos feitos no Brasil, os principais financiadores desses estudos, quem são as pessoas que os conduzem e de que forma o Estado contribuiu para a proposição dessas pesquisas que terminaram por evidenciar que Hidroxicloroquina não é eficaz no tratamento da COVID-19. Portanto, a medicina que se reconhece por ser ’ baseada em evidencias’’ faz um caminho diferente nesse período e sua prática em períodos de crise parece ser baseada a partir de evidencias de ineficácia. No entanto, durante o tempo em que essa produção de evidencias não se consolida, há uma série de aparados, regulamentos e órgãos que autorizam o uso dessas substancias sem sua devida comprovação científica. Por isso, a produção de fatos científicos guarda alguma especificidade na pandemia e talvez comum a outras epidemias. Cria-se lacunas, embaralhamentos e afirmativas sobre tratamentos ainda não evidentemente eficazes, que repercutem em necropolíticas (CASTRO, 2020) e como se como se constrói o conhecimento biomédico brasileiro. As reflexões contidas neste trabalho terão como inspiração as obras de Latour e Woolgar (1997), Martin (1998) e Traweek (1988).