Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 014: Antropologia das Relações Humano-Animais
Búfalos e as paisagens marajoaras: elementos humanos e não-humanos em transformação.
Este trabalho se debruça sobre o debate como a paisagem pode ser construída a partir das interações entre elementos humanos e não humanos de formas intencionais e não intencionais. A partir da presença, induzida, do búfalo no arquipélago do Marajó, buscamos entender como um animal exótico, mas entendido por diferentes agentes como "ecologicamente viável" para região, dinamiza e reconstrói a paisagem em suas dimensões natural, econômica e cultural.
Utilizamos como metodologia a Teoria Ator-Rede de Bruno Latour, abordagem que nos permite entender que diferentes elementos são atores que coproduzem com o meio ecológico. E, e diálogo com esta perspectiva, compõem o quadro teórico as contribuições de Anna Tsing sobre as relações multiespécies, que se sobrepõem à dicotomia natureza-cultura. A proposta é fruto de uma pesquisa mais ampla, ainda em curso, de caráter qualitativo. São procedimentos da investigação a pesquisa documental, observação no Marajó (PA) e entrevistas com atores-chave (como, por exemplo, representantes de comunidades rurais, bubalinocultores, pesquisadores e extensionistas).
O búfalo foi domesticado a cerca de 4.000 anos, na atual China. Sua jornada a partir da Ásia passou pela África, Europa e por fim as Américas e tem se adaptado nestes ambientes de formas distintas (Nascimento; Carvalho, 1993). As características fisiológicas colocaram o búfalo como pretendente para regiões como o Marajó.
Contudo, estudos (Zhang, et al., 2020; Pineda, 2021) sugerem que a historiografia dos búfalos foi mais complexa, impulsionadas por mudanças climáticas, cruzamentos de raças e manejo, não apenas "aclimatização" natural aos diferentes ambientes e biomas onde foram inseridos. A ideia de animal de fácil adaptação à Amazônia colocou o búfalo como "animal ecológico" (Miranda, 1986, p.11), próspero para a região e fonte de pesquisas que visam o melhoramento do manejo do rebanho (Embrapa, 2016) e da biotecnologia de reprodução (Fapespa, 2021).
Apesar da sua marcante presença na paisagem marajoara, na vida cotidiana dos ilhéus, nos quintais, ruas, culinária, festividades, o crescimento do rebanho tem provocado impactos ambientais (ISA, 2006; Monteiro, 2009; ICMBio, 2021) e transformado as paisagens, novamente.
Para olhar a Amazônia no século XXI é preciso compreender as relações criadas entre os atores, humanos e não humanos, da rede ecossistêmica criada através das biointerações das socialidades existentes, entender que esta natureza foi construída, direcionada, reconfigurada para se tornar paisagem com elementos bióticos e culturais agregados, onde não há ruptura entre natureza e homem.