Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 032: As Ações Afirmativas no Brasil atual: análises antropológicas sobre a eficácia, eficiência e efetividade das reservas de vagas no ensino superior
Cotas raciais no estado do Paraná: mobilizações políticas em meio ao apagamento histórico
Presente no debate público e intelectual brasileiro desde a virada do milênio, o tema das ações afirmativas e, em particular, das cotas raciais, tornou-se alvo de uma ampla disputa de narrativas no que se refere aos seus feitos e efeitos na sociedade brasileira, sobretudo, em relação ao racismo e às desigualdades e discriminações raciais vivenciadas no país. Mais do que evidenciar as mazelas oriundas desse mal social pautado pelas diferenciações e classificações raciais, as ações afirmativas também lançaram luz à luta política e organizada da população negra em torno do acesso ao ensino superior e da pauta antirracista como um todo. Talvez, em razão disso, a literatura produzida sobre o assunto tem, ao longo dos anos, privilegiado os embates e mobilizações acampadas em instituições localizadas nos grandes centros do país, a exemplo do notório caso da Universidade de Brasília (UnB). Com isso, as articulações e reivindicações pavimentadas pelo movimento negro em locais de menor prestígio no cenário nacional têm ocupado posição periférica no escopo de pesquisas e estudos que abordam as cotas raciais e as lutas dos sujeitos e coletivos negros para a sua implementação. Enquadram-se, neste caso, as universidades paranaenses cujos processos de adoção de políticas afirmativas racializadas receberam pouca atenção de estudiosos do tema, com ressalva para a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e, em menor escala, a Universidade Estadual de Londrina (UEL). Embora haja um breve acúmulo de pesquisas e textos sobre a implantação das cotas raciais, bem como de seus resultados, nas instituições mencionadas acima, as demais universidades do estado carecem de análise mais detalhada no que tange suas relações com as ações afirmativas. Com efeito, não podemos ignorar as relações de poder inerentes à própria produção de conhecimento científico no Brasil, cuja agenda tende a priorizar determinadas regiões em detrimento de outras. Contudo, tratando-se deste tema específico, urge destacar que o Paraná tem sido representado, ao longo de sua história, enquanto um estado majoritariamente branco, construído sob as heranças culturais e genéticas dos povos europeus, subtraindo, portanto, de sua representação oficial a presença negra. Diante disso, a proposta deste trabalho é elucidar os processos de reivindicação e implementação de cotas raciais nas universidades paranaenses, considerando a relação destes eventos com a atuação do movimento negro no contexto universitário. Para isso, faço uso do método de etnografia de arquivos, tomando como principais fontes documentos institucionais, textos acadêmicos e matérias jornalísticas que descrevem os percursos enfrentados para a consolidação da ação afirmativa.
Palavras-chave: Ações afirmativas; Cotas raciais; Movimento negro; Paraná.