ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 057: Etnografias em contextos de violência, criminalização e encarceramento
"Calma que dá tempo!": uma etnografia sobre a disputa do tempo das mulheres de presos
Este trabalho visa analisar o circuito e as visitas das mulheres de presos (LAGO, 2019) do Complexo Penitenciário do Gericinó, em Bangu, bairro da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. A partir de um registro da minha entrada no campo do encarceramento, tenho como estratégia da etnografia o deslocamento do olhar para a vida externa à prisão, mais especificamente para essas mulheres e o manejo do tempo que elas acionam. Observo que o horário da visita organiza o fluxo de pessoas e mercadorias no entorno do presídio e, principalmente, a gestão do cuidado dessas mulheres com suas famílias e seus homens, ou seja, como se mantém no mundo e dão conta dos outros (FERNANDES, 2018). Nesta etnografia pude acompanhar desde o embarque dessas mulheres (mães, tias, esposas e namoradas) às vans de transporte na Vila Kennedy com destino ao presídio, até a formação da fila para entrada das visitas, bem como observei as relações e as dinâmicas comerciais que se estabelecem nesse território. A presença da pressa é um elemento que tensiona o campo. Pressa para chegar ao local, para a distribuição de senha e para a chegada ao pátio do presídio. Compreendo que essa contração temporal é marcada pela economia política sexual (RUBIN, 2012), onde se consolidam as desigualdades de gênero. Elas se desdobram em jornadas, já que ocupam diversas posições na dinâmica social e familiar. A entrada de objetos no sistema prisional é controlada, levando as mulheres a um trabalho exaustivo de separação e procura por mantimentos específicos, denominados como sucata (DUARTE, 2020). Essa rigorosidade consolida uma constante readequação familiar que elabora a manutenção dos vínculos afetivos. Enquanto os homens cumprem o tempo na prisão, mulheres apressadas, perfumadas por suas marmitas e seus perfumes adocicados, disputam o tempo, manejando o tempo do cuidado, em um movimento de reivindicar que esses corpos encarcerados sejam bem cuidados.