Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 037: Corpo, reprodução e moralidades: disputas de direitos e resistência à onda conservadora
O aborto em telemedicina: as coletivas de acompanhamento no Brasil
A prática do aborto farmacológico existe desde antes da epidemia de COVID-19. No final dos anos 1980, o potencial abortivo do fármaco foi relatado no Brasil e foi adotado informalmente primeiro pelas mulheres e depois por profissionais de saúde em muitos outros países do mundo onde a interrupção da gravidez era ilegal. A partir do final dos anos 1980, o uso combinado de mifepristona e misoprostol começou a entrar nos protocolos adotados nos serviços de aborto em muitos contextos em que esse procedimento era legalizado. A metodologia farmacológica autogerida representa, nos tempos contemporâneos, o instrumento através do qual o processo de aborto está passando por uma trajetória de reapropriação de conhecimentos, experiências, narrativas e compartilhamento por pessoas grávidas em muitos contextos.
O acesso à interrupção da gravidez farmacológica em estabelecimento de saúde pode ser dificultado por uma série de barreiras. Por conta do isolamento social imposto pela pandemia de COVID-19, alguns países onde o aborto já era legalizado optaram pela realização do aborto farmacológico, com o uso de misoprostol e mifepristona, na casa das mulheres.
A criminalização do aborto e a extrema dificuldade de acesso às vias legais na América Latina e Caribe coincidiram com o desenvolvimento de coletivas feministas que acompanham as pessoas gestantes que necessitam abortar. Graças ao trabalho dessas coletivas, o número de mortes maternas por abortos ilegais e inseguros diminuiu drasticamente ao longo dos anos. Diferentemente de outros contextos latino-americanos, as redes brasileiras de acompanhamento ao aborto operam em um contexto particularmente hostil e criminalizado.
A pesquisa indagou os efeitos da pandemia da COVID-19 no trabalho dessas coletivas com dados coletados a partir de entrevistas realizadas em 2021 com acompanhantes no Brasil. Apesar das dificuldades, as redes continuaram a operar durante a pandemia, criando comunidades online e permitindo o acesso ao aborto autogerido atraves do acompanhamento.
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