Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 062: Fronteiras e fabulações: antropologias especulativas e experimentos etnográficos
Ciência, ficção, farmacologia e gênero: tecnologias drag e trans a partir do trabalho artístico de
Valentim Dias
A presente proposta de trabalho busca refletir e acompanhar, de forma colaborativa, o processo criativo
do artista visual, transmasculino não-binário e drag king Valentim Dias (Don Valentim) na produção de um
trabalho artístico que expõe sua composição artística e corporal como drag e pessoa trans. Neste trabalho
artístico, ainda sem nome e em construção, o artista propõe, em suas palavras, experimentação com diversos
materiais, explorando tecnologias drag e trans para pensar sua própria trajetória artística. Os materiais
que o artista utiliza provocam uma relação entre ciência, ficção, corpo, tecnologias farmacológicas, arte e
tecnologia drag. Uma cabeça de isopor (utilizada para perucas) revestida de fitas tape (utilizadas por
pessoas trans para reduzir volumes dos seios), com alfinetes, pedrarias, bandejas, vidros, exploram objetos
que emulam experimentações laboratoriais e científicas, com experimentações drag e trans. Nesse processo,
Valentim Dias pensa o artista como o cientista, explorando suas criaturas drags, seu corpo, e a própria
ciência como ficção e produtora de tecnologias corporais.
Assim, conectando com a proposta deste grupo de trabalho, esta apresentação propõe pensar a produção de
conhecimento em diálogo com outras formas expressivas, neste caso, uma exposição artística. Desse modo,
proponho refletir as relações entre ciência, ficção, farmacologia e gênero a partir do diálogo da produção
artística em questão com o que Paul Preciado chamou, em Testo Junkie, de processo biodrag para se referir à
ficções somáticas (como pílula) de feminilidade e masculinidade. Além disso, as reflexões da historiadora
Susan Stryker (2021) em Minhas palavras para Victor Frankenstein acima da aldeia de Chamonix: Performar a
fúria transgênera sobre as tecnologias biomédicas e seus efeitos pretensiosamente naturalistas irão compor
esta apresentação de forma central, além da relação entre gênero, performance e arte que autora explora.
Nesse sentido, exploro, impulsionado pelo processo artístico de Valentim Dias, a relação entre ciência e
ficção a partir da categoria drag.