ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 054: Etnografia da e na cidade: o viver no contexto urbano em suas formas sensíveis
O peito suado, armadura de si mesmo: as noções de corpo e a relação com o espaço urbano no metrô do Recife.
A experiência corporal-cinestésica do trajeto nos vagões do metrô do Recife transcende as sensações previstas em um deslocamento dentro de uma máquina. As percepções são sobrepostas por outros estímulos de atores, redes e situações que se integram e interagem nos complexos metroviários. Diante disso, é crucial analisar os corpos no metrô sob uma ótica mais ampla. Adotar o paradigma da corporeidade proposto por Csordas (2008) e a noção de corpo-tela de Martins (2023) surge como uma possibilidade de observá-los e pensá-los em conjunto com o espaço urbano de forma implicada. Csordas nos oferece pistas, ou nos deixa brechas, para observar esse corpo não apenas em momentos extraordinários, mas também no dia a dia. Percebê-lo como um objeto, um meio e a origem da técnica, expressando a experiência a partir de uma linguagem constituída no corpo em performance nos percursos cotidianos. Do ponto de vista teórico-metodológico, a pesquisa desenvolveu a articulação entre corporeidade, etnografia, corpografia e fotografia dentro do Metrô do Recife. Como aponta Nascimento (2016), os estudos tendem a separar os campos da antropologia urbana ou da antropologia do corpo. E, como coloca Martins (2013), os antropólogos tendem a se dividir entre visuais e não visuais. Assim, o objetivo da pesquisa foi buscar romper com esses quadros dicotômicos e produzir uma antropologia social do corpo urbano. Ter as imagens como parte do processo de produção do saber etnográfico a fim de identificar esses corpos em ação tendo agência, incorporando, reeditando e fazendo o mundo. Nesse sentido, encontramos no ambiente da cidade um conjunto de condições interativas. Os corpos que nela estão inseridos apresentam a síntese da interação. Assim, o ambiente não é apenas um local, um espaço físico a ser ocupado pelo corpo, ele é um campo de processo. Nesse campo, o corpo interage e produz as corporalidades. Tudo isso acontece baseado na premissa de que a percepção corporal das cidades não é resultado da mera ocupação desse espaço, é antes a ação dos corpos que acontece nela. As condições interativas no metrô propiciam uma experiência corporificada singular no âmbito do fluxo de deslocamento urbano. Observa-se uma multiplicidade de corpos e uma significação que transcende o uso objetivo do espaço. Uma experiência corporal é gerada pelos corpos em trânsito e em interação. A investigação dessa experiência a partir do paradigma da corporeidade, do conceito de corpo-tela e da utilização da corpografia nos leva a: identificar as corporeidades presentes no metrô e seu conhecimento específico do lugar; caracterizar as interações entre as pessoas e o espaço urbano; e a traçar as ocupações e apropriações do metrô a partir da lógica própria de circulação dos/das transeuntes.