Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 020: Antropologia e Alimentação: interculturalidade, saberes críticos e desafios contemporâneos em contextos de luta por direitos
Sociabilidades e agência das coisas em hortas, cozinhas e despensas: uma etnografia das práticas alimentares de uma matriarca ítalo-brasileira
O estudo que origina esta comunicação volta o olhar para saberes e técnicas culinárias de matriarcas ítalo-brasileiras do município de Campestre da Serra, na região dos Campos de Cima da Serra, Rio Grande do Sul. A interlocutora principal da pesquisa, avó materna do primeiro autor do trabalho, passa grande parte de suas manhãs na horta, plantando, colhendo, sentindo e remexendo a terra com os pés descalços. Nas tardes, conversa com amigas, revivendo o passado, redescobrindo acontecimentos que compõem sua identidade, tornando-os presentes e fontes de emoções quando os narra ao neto (AMON; MENASCHE, 2008). A partir de observação participante e do uso de fotografias, este estudo autoetnográfico pretende refletir sobre sociabilidades e agenciamento e potência das coisas do cotidiano: dos ingredientes da despensa, das sementes da horta e de outros tantos objetos que são utilizados diariamente por esta nonna (avó em italiano). Os saberes e fazeres presentes nas memórias narradas, técnicas reproduzidas, recriadas e fotografadas indicam que a tradição presente nesses espaços não é fruto apenas de um passado que se esvai, mas que acaba por se articular com o presente e reformular suas representações (MARQUES et. al., 2015). As motivações do retorno do neto ao pequeno vilarejo onde vive sua avó, as antigas receitas de massas e as novas histórias que as mesmas propiciam acontecem na cozinha, na horta e na despensa, constituindo-se também em temas de reflexão neste trabalho.
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