Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 033: Cartas, cartografias, confabulações e outras correspondências antropoéticas
Experimentações verbo-visuais como possíveis aproximações a modos Kaiowá de ver e dizer
Para este GT, proponho apresentar algumas experimentações verbo-visuais que tenho realizado a partir de um conjunto diverso de materiais - conjugados sob a noção de práticas de inscrição (INGOLD, 2000, 2007, 2011) - os quais, no escopo da minha pesquisa, vêm contribuindo para iluminar os imbricamentos entre imagem e palavra no pensamento Kaiowá (povo de língua Tupi-Guarani que vive em MS e no Paraguai). Abrindo uma fresta nos modelos acadêmicos vigentes, tenho buscado aliar à produção etnográfica e à pesquisa em arquivos, as dimensões do imaginar e do criar enquanto dispositivos metodológicos para a pesquisa em antropologia, em geral, e na etnologia indígena, em particular. As referidas experimentações ancoram-se, sobretudo, em operações de montagem (BRUNO, 2009; 2019; WARBURG, 2010; BATESON, MEAD, 1942) que nos convocam a um pensar por imagens (SAMAIN, 2012) em que se entretecem diferentes elementos do universo Kaiowá - tanto aqueles considerados por eles como tradicionais quanto produções contemporâneas. Os processos criativos empregados em tais experimentações contribuem, ainda, para que observemos os trânsitos entre imagem-palavra e memória, atualizando as relações entre ára pyau (espaço-tempo novo) e ára ymã (espaço-tempo antigo). Partindo então da costura artesanal de narrativas, cantos-reza, fotografias, desenhos e mapas, entre outros elementos, espero apresentar aos participantes do GT algumas produções antropoéticas que nos permitem entrever uma complexa trama de modos Kaiowá de ver e dizer - os quais articulam e gerem os campos do visível e do invisível e as relações entre pessoas, coisas, animais, lugares e alteridades mais-que-humanas.