ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Trabalho para SE - Simpósio Especial
SE 15 - Laicidade e Democracia em Perspectiva
Arquiteturas da segregação em um Estado Laico: A edificação de uma cidade intolerante e racista, dedicada a Cristo Rei do Universo.
Nesta comunicação, apresento uma reflexão sobre a maneira como o exercício pastoral de Dom Antônio dos Santos Cabral, entre os anos de 1923 e meados da década de 1950, buscou materializar no território de Belo Horizonte seu projeto de dominação religiosa. Importante que se diga que tal projeto começou a ser desenvolvido no início do período republicano, após a promulgação da Constituição de 1891, que tinha a laicidade como princípio. A reflexão aqui proposta é fruto de minhas pesquisas acadêmicas e, também, da minha experiência como diretor e curador do Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos e coordenador do Projeto de Pesquisa e Centro de Documentação NegriCidade. Belo Horizonte, inaugurada em 1897, foi uma cidade planejada e, para ser edificada destruiu e soterrou o povoado que existia no local, o Arraial do Curral del Rey. O povoado foi construído e habitado por negros. Com a chegada da Comissão Construtora da Nova Capital de Minas (CCNC), eles foram banidos pela ação higienista do Estado para as periferias e favelas da nova capital. Os idealizadores e construtores da cidade buscaram efetivar um projeto de homogeneização e hegemonização estética e cultural como modelo ideal de cidade urbana moderna e no intuito de compor seu corpo social como expressão e extensão de seu espaço urbano num esforço de apagar a identidade e a memória daqueles que, anteriormente, haviam inscrito ali suas referências identitárias. Com a chegada de Dom Cabral, os negros do antigo arraial e seus descendentes foram segregados novamente pela ação da Igreja. Ele foi o primeiro bispo da nova capital e proibiu a realização dos festejos do Reinado de Nossa Senhora do Rosário em templos católicos. Mas não só isso. Ele tinha como projeto a construção da Catedral Cristo Rei, que seria o símbolo de seu poder no território belo-horizontino. Ele se baseava no projeto Ultramontano, que defendia o retorno de uma Igreja dogmaticamente mais romanizada. A população negra criou outras formas de manter suas tradições religiosas, mesmo nas periferias e favelas da cidade. Dom Cabral não conseguiu concluir seu projeto, embora suas ideias ainda ecoem, sob novos formatos.