ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 023: Antropologia e saúde mental: sofrimento social e (micro)políticas emancipatórias
Memórias compartilhadas da pandemia de Covid-19 entre indígenas Fulni-ô/PE: estratégias de enfrentamento e os impactos sociais (pós-)pandêmicos
Esse trabalho consiste em uma primeira análise dos dados coletados por mim junto a colaboradoras/es Fulni-ô, especialmente Luiz Carlos Frederico da Silva, estudante Fulni-ô de ciências sociais e Xice Fulni-ô, xamã Fulni-ô e agente indígena de saúde, que estão escrevendo esse resumo comigo. As reflexões apresentadas por nós foram elaboradas, no âmbito de minha pesquisa de pós-doutorado, financiada pela CAPES, sobre as memórias da pandemia de Covid-19, os seus impactos sociais e efeitos longos que persistiram no momento pós-pandêmico, entre indígenas Fulni-ô que vivem na Terra Indígena/TI, situada no município de Águas Belas-PE, bem como nesse município. Essa pesquisa deriva do projeto maior intitulado “Impactos sociais, políticas públicas e estratégias locais de enfrentamento à pandemia de Covid-19: saúde, proteção social e direitos - uma abordagem interdisciplinar a partir das ciências humanas”. Essa pesquisa busca realizar uma etnografia das memórias da pandemia entre pessoas Fulni-ô. A metodologia da pesquisa se deu por meio de trabalho de campo com a realização de observação participante, escrita de diário de campo e realização de diálogos. Utilizei princípios da metodologia participativa (Arribas Lozano, 2015) como: o diálogo simétrico e colaborativo; conexão entre os interesses da pesquisa e os interesses e necessidades dos interlocutores e valorização das reflexões e análises dos interlocutores. A fundamentação teórica desta pesquisa está baseada em trabalhos do campo da antropologia médica (Menéndez, 2003), da saúde indígena (Langdon, 2004: Garnelo, 2022), memória (Jelin, 2002), bem como sobre os estudos das relações interétnicas e processos de territorialização (Oliveira Filho, 1998, 2004; Teófilo da Silva, 2005) e colonialismo (Batalla, 1990). É importante destacarmos a diferença entre os indígenas Fulni-ô “aldeados” e “desaldeados” pelo serviço de saúde, realizado pela SESAI/MS, durante o período da pandemia. Tal categorização trouxe para esses últimos um peso surpreendente, bem como promoveu diversos desdobramentos em relação à garantia do direito deles ao acesso ao serviço de saúde indígena. Esta pesquisa busca ainda descrever e compreender as estratégias locais de enfrentamento da pandemia, dentre elas o papel importante que desempenharam, no contexto pandêmico e pós-pandêmico, o sistema de cura e cuidado Fulni-ô e o ritual do Ouricuri.