Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 040: Culturas populares e os usos da tradição
A Festa do Cururuquara/SP: conflitos religiosos, territoriais e raciais na construção de uma tradição festeira
Este trabalho parte da etnografia de uma festa de santo, que celebra São Benedito, e é também uma festa de família: a Festa do Cururuquara. Organizada pelo Samba de Bumbo do Cururuquara, ela acontece todo ano, em maio, em Santana de Parnaíba/SP. Tendo o festejo de 2022 como festa-modelo (MENEZES, 2000), a pesquisa valoriza o ponto de vista dos sambadores e das sambadeiras e busca compreender as tensões que se colocam em evidência na defesa do direito de fazer a festa como se deve. Se destacam as práticas católicas, o território e a constituição de uma família negra nas disputas ao redor de uma tradição festeira e sambadeira. São analisadas as atualizações do mito de origem desta celebração, as práticas de uma reza familiar e seu papel na manutenção da festa.
São exploradas as concepções de dentro e de fora (ELIAS & SCOTSON, 2000), segundo as quais se evidenciam os conflitos entre os atuais moradores do bairro do Cururuquara e a família que organiza a festa - mas já não mora ali. A partir das ideias de parentesco, concepções de corpo e pessoa, tendo especialmente as contribuições de Mauss em mente, se pensa o Cururuquara enquanto território tradicional e religioso de uma festa que existe desde 1888. O pertencimento e identificação com o território se dão pela presença sentida dos antepassados durante as festas e rezas, em espaço e tempo determinados. As características que fazem do Cururuquara um espaço religioso e tradicional tem a ver com a antiguidade da família naquele território e com a realização do samba no mesmo lugar onde seus antepassados sambaram.
A reza familiar é apresentada como uma expressão de fé católica e também como uma forma de perpetuar a tradição festeira, se relacionar com os ancestrais da família, com as novas gerações e de se fazer ver para aqueles de fora. A preocupação com a manutenção da Festa passa pela preocupação também com a manutenção dessa reza.
Aproximo ritual (TAMBIAH, 2018), tempo, espaço e narrativas, a fim de pensar a tradição desta festa e o próprio Cururuquara, que é mais do que um bairro delimitado em mapa. Ele é também o lugar onde a história desta celebração acontece, onde o passado desta família é marcado, e onde o presente e a tradição desse grupo se constrói e se renova. Assim, festa, família, território e santo, ali, são de fundamental importância na construção da memória e ressignificação do passado, construindo, mantendo e atualizando as tradições locais.