ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 034: Casas, cozinhas, quintais e suas agências em coletivos quilombolas, sertanejos, pescadores, indígenas e camponeses
O saber-fazer beiju e a riqueza das mulheres: uma etnografia sobre convenções de gênero nas farinhadas no sul do Brasil
No universo-mundo colonial-tradicional-rural-açoriano na Ilha de Florianópolis dos manezinhos e manezinhas - gentílico popular para as pessoas nascidas na cidade - há a continuidade de práticas não-globalizadas ou regionais de saberes e fazeres, adaptadas em engenhos de farinha de mandioca. Tais elementos passaram a constituir a identidade cultural local, que permanecem vivos na memória da comunidade, tanto em sua dimensão material, quanto imaterial, apesar de atualmente estarem sendo engolidas pelo exponencial crescimento urbano da capital. Pela experiência de pesquisa anterior sobre patrimônio imaterial, mergulhei no mundo das “farinhadas” (eventos temporais e significativos), em que muitos feitios acontecem, e percebi que as mulheres têm lugares bem específicos nessa dinâmica. Para além da farinha, considerado o produto principal, o “beiju” de massa de mandioca também é produzido nessas festividades, sendo feito pelas mãos de mulheres e ensinado pelas mestras. Em novo percurso de pesquisa, agora para fins de conclusão de curso em Antropologia, guiada pela sensibilidade e pela imaginação feminista - assumindo gênero como uma categoria analítica - passei a focalizar o “feitio do beiju”, de modo a compreender os sentidos a ele atribuídos, pois na maior parte das vezes é um trabalho desvalorizado em relação ao da farinha e tem sua agência desfeita. Neste trabalho, portanto, apresentarei resultados parciais da pesquisa em desenvolvimento, problematizando as convenções de gênero no processo da “farinhada”, a partir da perspectiva das mulheres que produzem “beiju”, sabem e fazem, ensinam e aprendem. Num universo folclórico cultural praieiro aterrado pela especulação imobiliária milionária, o "beiju", assim, se traduz na riqueza das mulheres locais.