Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 081: Os limiares do corpo: a circulação de substâncias corporais e a produção de pessoas e relações
Botox, Algo(R)itmos e gestão das marcas corporais: para se pensar as experiências imagéticas da
temporalidade contemporânea
O estudo pretende integrar-se ao horizonte de exercícios investigativos e analíticos dos mais recentes
empreendimentos de si, em que a gestão do corpo se evidencia como primazia. Interessa-nos, especificamente,
compreender as narrativas de investimento emblemáticas de um tipo específico das produções corporais, a
saber: a toxina botulínica, popularmente conhecida como Botox. Trata-se de um composto injetável cuja
atuação se dá mediante a paralisação da musculatura, constituindo-se como recurso notório dentre as opções
oferecidas pelas atuais biotecnologias para a prevenção e tratamento de linhas de expressão, sobretudo as
classificadas rugas estáticas e rugas dinâmicas. Compreendemos, a partir disso, que os sentidos e
significados que norteiam essas práticas de consumo parecem evidenciar determinadas complexidades da
experiência estética do tempo na contemporaneidade. Tem-se, por um lado, que o imediatismo e a aceleração se
firmam na mediação de nossas elaborações simbólicas e experiências sensíveis da temporalidade, inscrevendo
seu ritmo voraz nas respostas que corporalmente fornecemos às urgentes exigências cotidianas. Por outro
lado, coexiste a distensão de um sonho coletivo de deter as evidências da passagem espontânea do tempo na
superfície da pele, ou, ao menos, da possibilidade de sua gestão. Em outras palavras, a sociedade da
urgência é também a que parece catalisar formas de negociação com a perecibilidade do corpo signo, por
excelência, dos fluxos da vida, exaltando uma cultura preventiva capaz de apaziguar a corporificação dos
indícios do tempo. Diante dessas questões, e reconhecendo as mídias digitais como artefatos culturais
cruciais para a disseminação da lógica de tempo e produção de si, analisamos postagens de clínicas de
estética veiculadas no Instagram, procurando compreender os significados e narrativas atribuídas ao consumo
de Botox em suas peças publicitárias. A escolha de tal plataforma considerou a intensidade do fluxo e os
mecanismos de produção e circulação de informações e imagens que lhe são característicos. Nossas primeiras
análises sugerem que os principais prejuízos estéticos que o consumo da toxina botulínica se dispõe a tratar
figuram como inscrições corporais das próprias dinâmicas de urgência de nossos dias: assim, temas como
cansaço, exaustão, atribulações da rotina despontam como experiências praticamente naturalizadas, cujos
efeitos estéticos se dão à eficiente gestão de si promovida pelos serviços oferecidos. Cabe destacar que
tais significados se produzem e se disseminam por meio de fluxos comunicacionais velozes e homogeneizantes
das vivências e representações corporais, o que justifica a leitura dessa experiência estética do tempo
considerando categorias como gênero e raça, por exemplo.