ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 081: Os limiares do corpo: a circulação de substâncias corporais e a produção de pessoas e relações
Botox, Algo(R)itmos e gestão das marcas corporais: para se pensar as experiências imagéticas da temporalidade contemporânea
O estudo pretende integrar-se ao horizonte de exercícios investigativos e analíticos dos mais recentes empreendimentos de si, em que a gestão do corpo se evidencia como primazia. Interessa-nos, especificamente, compreender as narrativas de investimento emblemáticas de um tipo específico das produções corporais, a saber: a toxina botulínica, popularmente conhecida como Botox. Trata-se de um composto injetável cuja atuação se dá mediante a paralisação da musculatura, constituindo-se como recurso notório dentre as opções oferecidas pelas atuais biotecnologias para a prevenção e tratamento de linhas de expressão, sobretudo as classificadas rugas estáticas e rugas dinâmicas”. Compreendemos, a partir disso, que os sentidos e significados que norteiam essas práticas de consumo parecem evidenciar determinadas complexidades da experiência estética do tempo na contemporaneidade. Tem-se, por um lado, que o imediatismo e a aceleração se firmam na mediação de nossas elaborações simbólicas e experiências sensíveis da temporalidade, inscrevendo seu ritmo voraz nas respostas que corporalmente fornecemos às urgentes exigências cotidianas. Por outro lado, coexiste a distensão de um sonho coletivo de deter as evidências da passagem espontânea do tempo na superfície da pele, ou, ao menos, da possibilidade de sua gestão. Em outras palavras, a sociedade da urgência é também a que parece catalisar formas de negociação com a perecibilidade do corpo – signo, por excelência, dos fluxos da vida, exaltando uma cultura preventiva capaz de apaziguar a corporificação dos indícios do tempo. Diante dessas questões, e reconhecendo as mídias digitais como artefatos culturais cruciais para a disseminação da lógica de tempo e produção de si, analisamos postagens de clínicas de estética veiculadas no Instagram, procurando compreender os significados e narrativas atribuídas ao consumo de Botox em suas peças publicitárias. A escolha de tal plataforma considerou a intensidade do fluxo e os mecanismos de produção e circulação de informações e imagens que lhe são característicos. Nossas primeiras análises sugerem que os principais prejuízos estéticos que o consumo da toxina botulínica se dispõe a tratar figuram como inscrições corporais das próprias dinâmicas de urgência de nossos dias: assim, temas como cansaço”, exaustão”, atribulações da rotina despontam como experiências praticamente naturalizadas, cujos efeitos estéticos se dão à eficiente gestão de si promovida pelos serviços oferecidos. Cabe destacar que tais significados se produzem e se disseminam por meio de fluxos comunicacionais velozes e homogeneizantes das vivências e representações corporais, o que justifica a leitura dessa experiência estética do tempo considerando categorias como gênero e raça, por exemplo.