ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 020: Antropologia e Alimentação: interculturalidade, saberes críticos e desafios contemporâneos em contextos de luta por direitos
A devastação da mata atlântica e ecossistema litorâneo e as perdas das referências culinárias regionais do Norte Fluminense/RJ.
Desde 2020 realizamos estudos no espaço social da culinária e gastronomia do Norte Fluminense, buscando compreender as transformações na paisagem alimentar regional sob o impacto da implantação da indústria de petróleo e gás protagonizado pela Petrobras nos anos 70. A partir desta década, os modos de fazer e saber culinários e gastronômicos passam por severos riscos de perda e desaparecimento sob o incremento de processos simultâneos de globalização/mundialização. A industrialização/urbanização intensificadas, transformaram os modos de vida, desenraizando/desterritorializando padrões alimentares tradicionais (POULAIN, 2014). Os ecossistemas regionais são erodidos em múltiplas dimensões geoespaciais: enclaves portuários na costa litorânea e avanço das manchas urbanas e industriais. Historicamente as devastações da Mata Atlântica se deram através da exploração predatória de madeira, ciclos das monoculturas da cana de açúcar, do café e da pecuária extensiva; destruindo patrimônios indígenas autóctones. Esse cenário de irrupção do Antropoceno (DANOWSKI, 2022) foi desfavorável à manutenção dos traços culturais e dos ingredientes culinários tradicionais. Tais transformações avassaladoras, ainda em curso, romperam elos de transmissão de saberes e fazeres intergeracionais. Detectam-se resistências no âmbito das comunidades quilombolas, mas as comunidades caiçaras/caipiras ainda não são capazes de enfrentar a modernização cada vez mais sofisticada (DORIA, 2021). Através da etnografia no espaço social da culinária e gastronomia regional, registram-se os rastros destas perdas. O processo de turistificação/gouermetização tem provocado o apagamento da memória culinária regional. Mesmo com a aprovação da Lei do Marco Referencial da Gastronomia como Cultura (2015), não se detecta mudanças - o poder público ainda não apreende a importância turística e cultural da preservação e da promoção patrimonial dos saberes e fazeres regionais e tampouco consegue sustentar uma economia culinária voltada para a promoção do consumo dos ingredientes locais. É possível apresentar exemplos destas perdas culinárias em situações emblemáticas. Pode-se tomar o caso do brasão e da bandeira do município e da cidade de Macaé (MACAÉ, 2008). A pesquisa CULINÁRIA MACAENSE procura através de entrevistas e abordagens diversificadas no campo empírico, recuperar traços, documentos, memórias e testemunhos dos hábitos alimentares da população local e regional (BECKER, 1994). Ao promover a proteção da cultura alimentar, resiste-se à homogeneização da alimentação e apagamento da culinária tradicional, realizando o trabalho de levantamento de dados, catalogação e classificação por observação e coleta das receitas ou formas de preparo a partir dos relatos dos entrevistados (PHILIPPI, 2014).