Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 045: Economias, políticas e territorialidades indígenas e negras: cenários de conflito, mudança social e identidade étnica
Cosmopolítica, desenvolvimento e movimentos sócio-religiosos entre os Memortumré Canela
O mito de Awkhêe é considerado o elemento cosmológico pelo qual os povos Timbira (Macro-Jê) elaboram sua compreensão sobre a origem do kupen (não-índio) e a formação das relações com a sociedade nacional; explicando ainda, a desigualdade de poder vigente entre índios e brancos (Nimuendaju 1946). Em 1963, uma mulher Memortumré Canela promoveu uma dramatização do Mito de Awkhêe, pela qual se desenvolveu o processo conhecido como movimento messiânico canela (Crocker, 1967). Num contexto de conflitos com criadores localizados no cerrado no centro-sul do Maranhão, a profetiza afirmava ter no seu ventre a irmã de Awkhê, subvertendo a ordem política tradicional Canela. Interpretando os desejos e a indignação de Awkhê com a apropriação do território e dos recursos naturais indígenas por criadores, ela autorizou e incentivou a matança do gado sertanejo pelos Canela e previu o retorno do herói cultural, quando ocorreria uma inversão nas relações de poder entre Canelas e cristãos. Os Canela passariam a viver nas cidades e a desfrutar de recursos dos brancos, que iriam morar em aldeias e a sobreviver da caça e coleta. O movimento foi frustrado após os primeiros ataques sertanejos e a profetiza desacreditada pelos Canela, que foram transferidos para uma região florestal, onde permaneceram por cinco anos. Nas décadas seguintes foram implantados grandes projetos de desenvolvimento regional na Amazônia e Nordeste, com impactos no centro-sul maranhense. O messianismo canela retornou nesse contexto orientando novos movimentos sócio-religiosos entre os Memortumré, vinculados ao messianismo canela. Este trabalho apresenta os movimentos ocorridos em 1981, 1984, 1990 e 1999, os quais são associados ao poder tutelar e a processos ligados ao desenvolvimento.
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