Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 047: Elementos vitais: emaranhados socioambientais existenciais, reflexivos e expressivos na América Latina
Entre o mar, árvores, fogueiras e areia: Uma etnografia dos afetos e entrelaçamentos compondo com as práticas de cuidados e cura de terapeutas e indígenas de etnia Pataxó (BA)
A partir do encontro de duas pesquisadoras e seus compartilhamentos, neste trabalho voltamos o nosso olhar para o campo realizado em Santa Cruz de Cabrália, na aldeia Nova Coroa Pataxó, localizada no Sul da Bahia, entre os dias 11 a 22 de janeiro de 2024. Ambas participam do mesmo grupo de orientação, sendo uma da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a outra da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Assim, a entrada para o campo etnográfico aconteceu por meio do convite de um grupo de terapeutas para participar da 5ª Viagem Terapêutica. Essa viagem acontece desde 2006, com intervalos de alguns anos entre uma e outra, reunindo majoritariamente pessoas da região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. Além das(dos) praticantes de diferentes terapias e dos(das) praticantes mais experientes (LAVE & WENGER, 2022), mestras e/ou xamãs, o grupo também é composto por pessoas atendidas por essas práticas de cura e cuidados. São pessoas de diversas faixas etárias e etnias, boa parte residindo em territórios rurais
Por meio das observações em campo, registros, conversas e afetos propomos um trabalho criativo utilizando a metodologia etnografica. Importante ressaltar que essa etnografia aconteceu, e constitui-se como parte de uma pesquisa de Doutorado em Educação na UFMG de uma das autoras. Esta pesquisa foi iniciada em 2022 e está em andamento. Portanto, interessa-nos debruçar sobre o trabalho de campo realizado em parceria entre as duas pesquisadoras, para que assim possamos compor com as nossas percepções. A partir do encontro entre as pesquisadoras, o mundo indígena e o mundo dos/das terapeutas, nos reposicionamos a partir das seguintes questões: O que pode o corpo das pesquisadoras em um trabalho de campo compondo com diferentes mundos? Quais os afetos (FAVRET-SAADA, 2005) produzidos pelas práticas de cura, cuidado e proteção durante um trabalho de campo etnográfico? Quais as interferências e entrelaçamentos produzidos entre as pesquisadoras e os diferentes territórios?
Nas visitas à aldeia, fomos recepcionadas com alimentos, danças, cantos e fogueira. Participamos desses momentos com nossos corpos em movimento, implicadas e afetadas nas vivências coletivas. Ao compor com os diferentes mundos, seja o mundo indígena ou o mundo dos terapeutas, nos enredamos (INGOLD, 2010), desde a posição de pesquisadoras a um certo pertencimento da comunidade de práticas (LAVE & WENGER, 2022), cuidando e sendo cuidadas. Reposicionamos, então, a nossa forma de habitar e perceber outras ontologias. Construímos possíveis alianças (STENGERS, 2013) entre a nossa realidade e as árvores, o mar, as terapias, os cuidados, as fogueiras, o nascer do sol, os humanos e mais que humanos, indo além da dicotomia entre natureza e cultura.