ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 038: Criatividades indígenas na transformação da educação escolar
A luta e a inventividade Tikmũ’ũn-Maxakali na (re)construção de sua educação escolar: um olhar a partir da circulação dos materiais de autoria indígena Maxakali entre as crianças
Este trabalho tem como objetivo refletir sobre as demandas Tikmũ’ũn-Maxakali na (re)construção de sua escola a partir da observação da circulação das produções impressas e audiovisuais de autoria maxakali, entre as crianças Tikmũ’ũn. Os Tikmũ’ũn têm a partir de sua relação com os cantos yãmiyxop (yãmiy = espírito, xop = grupo) especificidades sociolinguísticas, expressivas e cosmológicas. Um cotidiano repleto de agências que revelam um conhecimento do território ancestral e dos seres que o habitam transmitido ao longo das gerações por meio de modos de aprendizagem pautados na oralidade e na prática corporal e ritual coletiva. À educação maxakali soma-se a escola, tapet pet, e com ela a chegada de práticas de ensino-aprendizagem a partir da escrita, incialmente em língua maxakali e mais tarde também em língua portuguesa. A partir da expansão da escola, os Tikmũ’ũn passam a ter dois espaços agenciados como lugares de transmissão do conhecimento que vem do exterior, um deles é a kuxex (casa de religião), outro é a tapet pet (casa de papel). A concepção de espaço de aprendizagem entre os Tikmũ’ũn tem sido relatado por Sueli Maxakali e Isael Maxakali que elucidam: a aldeia é a escola, a escola é a aldeia, a floresta é a escola, a escola é a floresta, ou seja, todo espaço é lugar de aprender. Neste sentido, surgem inventividades e negociações diversas com os órgãos educacionais governamentais para a garantia dos conhecimentos e epistemologias tikmũ’ũn em sua educação escolar, além da autonomia didática e de gestão. É através da educação escolar indígena maxakali que se intensifica o acesso das crianças aos materiais produzidos em língua maxakali. Pois, é principalmente, a partir da criação das escolas indígenas específicas e diferenciadas que se passa a produzir material didático específico para as escolas indígenas de todo o país no contexto de programas governamentais e órgãos não governamentais. Neste ínterim, identifica-se nos diferentes territórios e aldeias Maxakali, o trânsito de materiais que revelam, por exemplo, a criatividade com que pensam sua educação escolar, no que tange seus saberes e tempos. Observar como as crianças se apropriam destas produções suas trocas e aprendizagens intergeracionais oferecerá subsídios para pensar novos materiais de educação, valorização e fortalecimento dos saberes, tempos e língua maxakali? Estas reflexões são parte de uma pesquisa de doutorado em que são feitos diálogos teóricos e metodológicos entre antropologia e educação, mobilizando também minhas experiências com professores maxakali no âmbito do Programa Saberes Indígenas na Escola (SIE) e de outros projetos de educação Maxakali.