ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 043: Desenvolvimento e conflitos socioambientais: práticas de apropriação territorial e alternativas transformadoras
Da soja ao condomínio de alto padrão: as retomadas periurbanas em Dourados como ação política de enfrentamento a expansão imobiliária
O movimento de retomada, como ficou conhecido, se refere ao ato de famílias Guarani e Kaiowá de recuperar e reivindicar a demarcação e o direito de viver em seus territórios tradicionais, os tekoha. Esse movimento começou a dar seus primeiros passos ainda nos anos 1970 e se fortaleceu no final dos anos 80. Para meus interlocutores as retomadas representam a defesa e a proteção das terras que foram saqueadas e privatizadas no passado e passaram a sofrer com as monoculturas do agronegócio. Mais recentemente, tendo como lócus de análise o município de Dourados (MS), o crescimento da cidade e a especulação imobiliária também vem pressionando os indígenas através da expansão de condomínios fechados e de loteamentos urbanos, que se sobrepõem aos territórios reivindicados por eles. Em relação a expansão imobiliária, entre 2014 e 2018, surgiram cerca de 15 loteamentos na cidade e, desde 2013, foram contabilizados 14 condomínios fechados de alto padrão. Esses últimos empreendimentos estão localizados, na sua maioria, na região noroeste da cidade, próximos da Reserva Indígena de Dourados (RID) e das áreas de retomada localizada no entorno da RID. O crescimento urbano e a especulação imobiliária são centrais para pensar a relação da cidade de Dourados, as retomadas indígenas, as disputas territoriais e a relação dos Guarani e Kaiowá com o município. Esse trabalho propõe analisar a metamorfose do capital latifundiário na cidade de Dourados, ao mostrar como os grandes fazendeiros e proprietários de terra passaram a negociar suas propriedades e/ou se associaram a grandes empreendimentos imobiliários na região. Busca-se refletir como nesses processos, além do interesse pela terra, há também, a disputa pela imposição de um modo de vida, de uma cidade plantation (Belisario, 2023; Machado, 2022; Pompeia, 2022). Assim, ao analisar a presença e os estilos dos condomínios de alto padrão na região, discuto como a forma condomínio é a manifestação de um projeto não só econômico, mas, sócio-político, que se impõe sobre os lugares e sobre outrem, tornando a terra Kaiowá e Guarani em mercadoria e, assim, passível de ser medida, negociada, retalhada e murada. Por outro lado, há resistência indígenas, praticada no cotidiano das áreas de retomadas Kaiowá e Guarani que afrontam o agronegócio e o avanço da cidade sobre seus territórios, tal como, as áreas de retomadas localizadas no entorno da RID. Essas retomadas periurbanas, do mesmo modo que são motivadas pelo desejo de viver entre parentes e recompor práticas e conhecimentos tradicionais, são exemplos claros das estratégias dos indígenas para tentarem refrear o avanço da cidade para o lado da reserva”, de se fazerem vistos e ouvidos, pois eles tem o direito de discutir a cidade que querem e os seus limites.