ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 060: Experimentos de Ontologia: formas de mundialização desiguais e etnografia como atuar criativo.
Cosmopoéticas ribeirinhas: alianças com o rio São Francisco para fazer-mundo entre os contratempos
Neste trabalho, apresento algumas observações sobre a crise ecológica percebida, vivida e sentida pelos ribeirinhos e os mundos existentes com o rio São Francisco, na região de Buritizeiro e Pirapora, em Minas Gerais: com as enchentes, a temperatura e oxigênio das águas, os peixes, as plantas, as pedras, a cachoeira, a piracema. Os contratempos, que de acordo com um pescador é um desajuste profundo no tempo do calendário, no tempo climático e entre esses dois, estão acontecendo porque desde a colonização o rio São Francisco vem sendo ocupado por formas violentas, que na pesquisa identifico como um habitar colonial ribeirinho, atualizado constantemente pelo poder exercido sobre todas as formas de existir. Os contratempos não são uma ameaça ou aquilo que pode chegar com uma crise ecológica futura, muito menos com ajustes para uma transição energética. Como veremos, eles estão acontecendo como resultado da instalação histórica de infraestruturas de energia elétrica, mineração, irrigação e dos quebra-cabeças da plantation sobre os mundos do rio São Francisco. Desde que iniciei a pesquisa de mestrado, em 2022, alguns encontros (com pescadores, vazanteiro e com um artista) me instigam a pensar que outras formas de resistência e enfrentamento ao habitar colonial ribeirinho emergem diante dos contratempos, pois os ribeirinhos estão construindo alianças estéticas, políticas e ontológicas para conjurar a crise ecológica. No reencontro com os mundos do rio, já que nasci em Buritizeiro e vivi lá até os dezoito anos de idade, tenho aprendido sobre como criar, viver e resistir entre essas mudanças, mas também sobre as possibilidades para uma antropologia ribeirinha, que esteja cada vez mais atenta e sensível às alianças entre formas de existir que compõem os mundos ribeirinhos. Palavras-chave: Cosmopoéticas; crise ecológica; rio São Francisco; ontologias; antropologia ribeirinha.