Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 026: Antropologia, memória e eventos críticos
Uma Revolução feita para a fotografia
Este artigo relata e analisa o processo de pesquisa e produção do curta-metragem Foto Revolução de Abril (2022), filme realizado pelos autores na Oficina Colaborativa de Audiovisual Brasil-Portugal: Ditaduras e Resistência(s), promovida pela FGV/CPDOC e a Fundação Mário Soares e Maria Barroso, de Portugal. Por meio de uma narrativa estabelecida na montagem entre fotografias, áudios, ruídos de arquivo e da voz off de duas entrevistas gravadas, o filme desvela os pontos de vista, sensações, vivências e memórias de dois fotógrafos portugueses, Alfredo Cunha e Mário Varela, nos dias 25 e 26 de Abril de 1974, durante a Revolução dos Cravos, em Portugal - Lisboa. Alfredo Cunha, reconhecido como o “Fotógrafo de 25 de Abril”, já era um jornalista e fotógrafo profissional em 1974, do Jornal português “O Século”. Já Mário Varela era um homem da cultura e estudante de arquitetura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Através de suas fotos realizadas em pontos de vista distintos diante dos acontecimentos, no mesmo dia e espaço urbano de Lisboa, é possível construir uma cartografia e descobrir novas miradas que revisitam o clima político e social. Um marco da história portuguesa contemporânea que completa 50 anos em 2024. Para Ronaldo Entler (2008), “desejamos que a imagem funcione como memória objetiva, explicando o momento que lhe deu origem e, enquanto não puder fazê-lo, nós a guardamos e catalogamos na esperança de que um dia ela possa entregar efetivamente aquilo que tem a dizer. Mas o que ela tem a dizer?” Ele argumenta que um documento como a fotografia oferece poucas garantias de uma compreensão e leitura precisa, pois o discurso da fotografia é poroso, permeável às intenções, usos, contextos e memórias que a confrontam. O que tem a nos dizer as imagens da Revolução dos Cravos hoje? Este artigo busca traduzir em diálogo com o filme alguns dos sentidos atuais destas imagens na porosidade dos olhares e memórias conhecidas, e outras desconhecidas. Trata-se de ver nas fotografias não apenas documentos históricos, mas novos olhares em detalhes e re-enquadramentos inéditos das imagens, isto, em diálogo com o discurso e a memória dos próprios fotógrafos. Alfredo Cunha é hoje um reconhecido fotojornalista internacional e possui imagens icônicas da Revolução e guerras ao redor do mundo. Já Mário Varella Gomes é hoje um Professor e Arqueólogo na Universidade Nova Lisboa e fotógrafo amador. Assim, este artigo busca traduzir o processo de construção e a narrativa do filme em expor e atualizar as memórias dos fotógrafos sobre suas próprias fotografias, revisitando seus pontos de vista à época, em sentimentos e vivências naqueles dias de radicais mudanças, e atualizam suas perspectivas, passados 50 anos da vida de cada um.