ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 027: Antropologias da Paisagem: Conhecimentos, Relações e Políticas Multiespécie
A feminização do conceito de quilombo e as paisagens do Engenho Ilha em Suape (PE)
A interlocução da dimensão de raça às questões ambientais e suas consequências em escala planetária tem ganhado cada vez mais espaço nas discussões antropológicas. A partir das análises de Bispo dos Santos (2015), Moura Fagundes (2019) e Ferdinand (2022) através da denúncia da ausência de pessoas negras nos debates ambientais, também torna-se importante destacar a questão colonial frente às urgências do antropoceno. Ao colocar em primeiro plano outras epistemologias, destaca-se nesse processo os espaços dos quilombos não só como um refúgio humano e de outras espécies, mas também como um lugar privilegiado para se pensar maneiras de promoção da biodiversidade. Porém, diante das desterritorializações baseadas no racismo ambiental, promoveu-se uma forma de violência particular direcionada às mulheres que vem sendo cada vez mais denunciada (MATOS DA SILVA, 2019; DEALDINA, 2020), este é o caso do Engenho Ilha, na cidade do Cabo de Santo Agostinho (SILVA et al, 2014). Sua formação foi marcada pelo controle por meio da diferenciação fenotípica, desde o período colonial, nas relações de exploração da escravização e um contínuo avanço em busca da ampliação do desenvolvimento econômico local, marcado por sua agressiva exploração ambiental. Desse modo, as mulheres sofrem pela destruição dos espaços comuns, a limitação da circulação no território, exclusão do Estado e estratégias políticas marcadas pela invisibilidade de suas reivindicações. O objetivo deste trabalho é debater este movimento através da feminização do conceito de quilombo (ALMEIDA, 2022) e da etnografia em andamento entre as mulheres do Engenho Ilha, onde relações de responsa-habilidade (HARAWAY, 2023) são refletidas em suas paisagens. Formado por vários sítios e áreas comuns como a Mata do João Grande, o Areeiro, Miranda, Zumbi, Ilha dos Martins, Cajá, e outros, o Engenho Ilha tem promovido através das técnicas desenvolvidas pelas mulheres importantes debates sobre uma noção conservacionista da natureza que tem sido apropriada pelo Complexo de Suape. Através de estratégias desenvolvidas por elas e de seus fazeres ecológicos, é possível destacar uma articulação maior que nos dá pistas para caminhos outros diante da crise socioambiental atual. Desse modo, o que podemos aprender com essas mulheres de quilombos? De que maneira suas ações produzem formas do fazer ecológico? Como elas nos mostram uma vida para além do fim do antropoceno? É a partir desta quebra de fronteiras que busca-se evidenciar suas ações contra-colonizadoras (BISPO DOS SANTOS, 2015; MATOS DA SILVA, 2019) através do aquilombamento de suas ações agroecológicas em espaços políticos de cuidado.