Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 016: Antropologia dos Povos Tradicionais Costeiros: Práticas Sociais, Disputas Identitárias e Conflitos
As identidades relacionais nas Amazônias: reflexões sobre o Eu e o Outro a partir de uma experiência etnográfica na Vila do Jubim, no Arquipélago Marajó
Os diversos modos de vida estabelecem diversas relações de gênero em comunidades pesqueiras, não permitindo que concepções generalizantes se tornem paradigmas. Este trabalho, desenvolvido dentro do Programa de Iniciação Científica da Universidade Federal do Pará (UFPA), surge a partir de minha primeira experiência etnográfica na Vila do Jubim, no município de Salvaterra-PA, costa oriental do Arquipélago do Marajó, em que fui defrontada a uma forma de se referir à atividade da pesca feminina que em muito se diferia das atividades na região do “salgado paraense (na costa Atlântica), de onde sou, onde é comumente chamada “mariscagem”. Estava em um restaurante na beira da praia e perguntei a uma moça que trabalhava no local se conhecia alguma marisqueira na região, quando um homem a interrompeu dizendo “ela não sabe o que é isso”. E me ajudou com os nomes e endereços que procurava. Depois, ao conversar com a moça, entendi que o termo utilizado era, na verdade, pescadora. O ocorrido me levou a refletir sobre a pesquisadora que sou e os marcadores sociais que trago comigo por onde passo e em como tais posicionamentos exigem reflexividade sobre a atividade em campo tanto quanto sobre os limites e as possibilidades para a produção de dados antropológicos. Neste trabalho, adoto o entendimento de que a atividade da pesca compreende uma complexa rede de relações na terra, no mar, nos lagos, nos igarapés, entre homens e mulheres, e também parto da análise crítica do surgimento do termo “marisqueira”, notando quais processos históricos o circunscrevem, ou seja, a tentativa de negritar a assimetria nas atividades desenvolvidas por homens e mulheres na pesca, compreendendo, no entanto, a sua importância na garantia de direitos. Na região costeira da Amazônia, seja na relação com as águas salgadas ou as águas doces, existem diversos mundos de vida, nos quais, categorias são constituídas por diversos processos particulares. Assim, elaboro uma reflexão sobre as produções de identidades múltiplas em um território muitas vezes dito “comum”, evocando o caráter relacional das identidades e a complexidade do território. Desta maneira, relativizo a condição “de perto e de dentro e “de longe e de fora”, uma vez que uma “mesma Amazônia se mostra multidiversa de uma outra perspectiva e, como a pesquisadora amazônida que sou, reconheço, na Vila do Jubim, um “Outro”. Por fim, cortejo a possibilidade de identificar a pluralidade das e dos amazônidas, contribuindo para que a Amazônia seja compreendida, em contrapartida, como as Amazônias.