Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 028: Antropologias e Deficiência: etnografias disruptivas e perspectivas analíticas contemporâneas
Desfiguração com agentes químicos: sobre a debilitação de corpos e a criação de deficiências
Este trabalho apresenta reflexões sobre experiências de agressão realizadas com agentes químicos, comumente chamados de ácidos, sobre corpos que ficam com desfigurações, especialmente no rosto, tórax e extremidades, e passam a sofrer deficiências de mobilidade, visão, audição, fala, respiração ou exposição ao sol, entre as mais comuns.
O trabalho de campo vem sendo feito desde 2019 em Bogotá (Colômbia) entre pessoas, majoritariamente mulheres, que viveram ataques com agentes químicos e passam atualmente por longos processos de recuperação via cirurgias, fisioterapias, psicoterapias e intervenções funcionais/estéticas. Colômbia chegou a ser considerado em 2012 o primeiro país do mundo em apresentar incidências de ataques com ácidos, o que tem gerado diversas legislações para o controle dos mesmos, rotas de atendimento em saúde para as vítimas e organizações de prestação de assistência, varias das quais geridas pelas sobreviventes, como chamam a si mesmas.
O meu intuito é refletir sobre a violência e a afetação do corpo violentado nos níveis da desfiguração, o adoecimento e o comprometimento das capacidades funcionais. Violência será desdobrada em noções como mutilação, entendendo-a como uma técnica específica que tem como efeitos a debilitação de corpos (Puar, 2017), o rebaixamento moral, ou como já tenho defendido, a monstrificação do outro (Díaz Benítez, 2021).
Em resumo, proponho pensar as relações entre as categorias trauma, humilhação, debilitação e deficiência, refletindo também sobre os efeitos subjetivos, as transformações nas vidas após o ataque e os engajamentos realizados para o refazimento de si.