Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 070: Memórias sensíveis, contramemórias e patrimônios incômodos: políticas, suportes e narrativas nas cidades
Da pesquisa em campo à pesquisadora do campo: uma experiência no carnaval carioca
O desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro é uma das maiores manifestações culturais brasileiras.
Anualmente, o Sambódromo que fica na Avenida Marquês de Sapucaí, no Centro da cidade, torna-se um palco
iluminado onde se apresentam distintas agremiações recreativas que se articulam em torno da cultura do
samba. Umas das principais características do cortejo é o fato de ser composto por diferentes expressões
artísticas que são resultantes de inúmeros processos de trabalho.
Todo desfile tem, por exemplo, um tema que precisa ser desenvolvido, no universo do samba carioca este tema
é chamado de enredo. O enredo se materializa na avenida através de figurinos, alegorias e adereços e tem no
samba-enredo a sua principal forma de comunicação. Todos esses processos artísticos são realizados por uma
ampla cadeia de trabalhadores do carnaval que são acompanhados de perto pela diretoria da agremiação.
Dentre as diferentes equipes de trabalho que se dividem em distintos fazeres artísticos, vale destacar a
centralidade dos carnavalescos que acompanham todo o processo de fabricação do carnaval. Devido à
centralidade que o enredo vem conquistando nos últimos carnavais, a função de pesquisador(a) de enredo tem
ganhado força. A responsabilidade e a função deste profissional é acompanhar o processo de desenvolvimento
da narrativa escolhida pela escola realizando uma defesa escrita das fantasias e alegorias que serão
apresentadas no desfile. A pesquisa de enredo é fundamental para a fundamentação histórica e conceitual do
tema que a agremiação irá apresentar no carnaval e é peça decisiva na produção do cortejo pois dela decorre
tanto os elementos plástico-visuais (fantasias e alegorias), quanto musicais (samba-enredo).
Ao longo de dois anos frequentei o barracão da G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira, como parte do meu
campo etnográfico de pesquisa de doutorado. Minha pesquisa inicialmente buscava refletir sobre as dinâmicas
de trabalho, hierarquia e religião a partir da interlocução com uma aderecista evangélica responsável pela
confecção de alegorias e adereços na escola. Devido a aproximação com alguns membros da escola, fui
convidada a assumir o cargo de pesquisadora, passando então a integrar a equipe de trabalhadores da
agremiação como responsável direta por um quesito do desfile.
O objetivo deste trabalho é pensar antropologicamente esta experiência a partir dos desafios do fazer
etnográfico quando o campo de pesquisa torna-se também seu trabalho, quando o modo de operar na estrutura
são alterados já que há uma mudança em minha posição no campo que se refletiu nas relações constituídas em
um ambiente altamente hierárquico.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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