Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 095: Saberes plurais em torno do uso de drogas
Desafios na expansão contemporânea do consumo das Medicinas da Floresta: controvérsias interculturais e
de gênero
Neste texto, discuto sobre desafios e paradoxos da expansão global das chamadas Medicinas da floresta
relacionadas à expansão do turismo xamânico indígena no Brasil no século XXI, de uma perspectiva histórica e
antropológica. Parto de dados etnográficos apresentados em minha tese de doutorado (Platero, 2018), ocasião
em que pesquisei as trocas em múltiplos sentidos de valor, reinvenções e transformações multidirecionais e a
produção de parentesco simbólico e efetivo em meio à aliança do povo indígena Yawanawa com uma igreja urbana
do Santo Daime (Rio de Janeiro). Busco aqui dar mais um passo analítico e dialogar com as discussões sobre a
globalização da ayahuasca e do turismo ayahuasqueiro (Labate e Cavnar, 2014; Labate, Cavnar e Gerin, 2017).
A partir de dados etnográficos na Terra Indígena Rio Gregório, no Acre, e na igreja do Santo Daime, no Rio
de Janeiro, apresento inicialmente uma visão geral dos usos contemporâneos das chamadas Medicinas da
Floresta (rapé, sananga, kambô e muká, incluindo a ayahuasca, a mais famosa substância). Em seguida,
enfatizo o caso dos indígenas Yawanawa no estado do Acre, oferecendo uma visão sobre o processo de
colonização na região e as diferentes fases da história dos yawanawas, do tempo da borracha e da presença de
missões religiosas ao tempo do resgate da cultura nos anos 1980, quando práticas xamânicas foram
recuperadas.
Apresento um panorama sobre suas práticas xamânicas, suas relações de trocas e reciprocidade com não
indígenas e suas transformações durante os séculos XX e XXI. Enfatizo suas relações tradicionais de trocas
em múltiplos sentidos de valor relacionadas à produção de parentesco simbólico e efetivo, incluindo em suas
redes pessoas não indígenas das cidades, como turistas do norte global, muitos deles dos EUA e Canadá.
Incluo uma discussão sobre a IV Conferência Indígena da Ayahuasca, que aconteceu no Acre, em setembro de
2022, quando líderes indígenas apresentaram suas preocupações relacionadas à expansão e globalização das
Medicinas da Floresta.
Tenho como objetivos expandir o debate em torno de tópicos como turismo xamânico como uma alternativa
econômica para várias populações indígenas do estado do Acre e controvérsias e conflitos gerados pela
globalização, produção de parentesco simbólico e efetivo em meio ao consumo das Medicinas da Floresta,
desentendimentos funcionais em meio a alianças e diálogos interculturais entre indígenas e turistas
ayahuasqueiros, hibridismos versus apropriação cultural e relações de gênero em contextos xamânicos,
incluindo perspectivas indígenas e não indígenas.