ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 095: Saberes plurais em torno do uso de drogas
Desafios na expansão contemporânea do consumo das Medicinas da Floresta: controvérsias interculturais e de gênero
Neste texto, discuto sobre desafios e paradoxos da expansão global das chamadas Medicinas da floresta relacionadas à expansão do turismo xamânico indígena no Brasil no século XXI, de uma perspectiva histórica e antropológica. Parto de dados etnográficos apresentados em minha tese de doutorado (Platero, 2018), ocasião em que pesquisei as trocas em múltiplos sentidos de valor, reinvenções e transformações multidirecionais e a produção de parentesco simbólico e efetivo em meio à aliança do povo indígena Yawanawa com uma igreja urbana do Santo Daime (Rio de Janeiro). Busco aqui dar mais um passo analítico e dialogar com as discussões sobre a globalização da ayahuasca e do turismo ayahuasqueiro (Labate e Cavnar, 2014; Labate, Cavnar e Gerin, 2017). A partir de dados etnográficos na Terra Indígena Rio Gregório, no Acre, e na igreja do Santo Daime, no Rio de Janeiro, apresento inicialmente uma visão geral dos usos contemporâneos das chamadas Medicinas da Floresta (rapé, sananga, kambô e muká, incluindo a ayahuasca, a mais famosa substância). Em seguida, enfatizo o caso dos indígenas Yawanawa no estado do Acre, oferecendo uma visão sobre o processo de colonização na região e as diferentes fases da história dos yawanawas, do tempo da borracha e da presença de missões religiosas ao tempo do resgate da cultura nos anos 1980, quando práticas xamânicas foram recuperadas. Apresento um panorama sobre suas práticas xamânicas, suas relações de trocas e reciprocidade com não indígenas e suas transformações durante os séculos XX e XXI. Enfatizo suas relações tradicionais de trocas em múltiplos sentidos de valor relacionadas à produção de parentesco simbólico e efetivo, incluindo em suas redes pessoas não indígenas das cidades, como turistas do norte global, muitos deles dos EUA e Canadá. Incluo uma discussão sobre a IV Conferência Indígena da Ayahuasca, que aconteceu no Acre, em setembro de 2022, quando líderes indígenas apresentaram suas preocupações relacionadas à expansão e globalização das Medicinas da Floresta. Tenho como objetivos expandir o debate em torno de tópicos como turismo xamânico como uma alternativa econômica para várias populações indígenas do estado do Acre e controvérsias e conflitos gerados pela globalização, produção de parentesco simbólico e efetivo em meio ao consumo das Medicinas da Floresta, desentendimentos funcionais em meio a alianças e diálogos interculturais entre indígenas e turistas ayahuasqueiros, hibridismos versus apropriação cultural e relações de gênero em contextos xamânicos, incluindo perspectivas indígenas e não indígenas.