Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 026: Antropologia, memória e eventos críticos
Clínicas do Testemunho como lugar de memória e reparação: tentativa de implantação do projeto no noroeste do RS
Iris Fátima Alves Campos (UFSM)
Este trabalho é parte de uma investigação a respeito dos “dispositivos de gestão do sofrimento de vítimas de violência no
Brasil e hierarquias morais”. O campo desta etnografia é a experiência de interiorização do projeto Clínicas do Testemunho,
dispositivo de reparação psíquica aos afetados pela ditadura militar brasileira, criado pela Comissão de Anistia. Introduzimos
o texto com breve descrição sobre a movimentação de coletivos de vítimas junto a Comissão de Anistia em busca de dispositivo
para a reparação psíquica e a instalação do Projeto C.T em Porto Alegre a partir de associações psicanalíticas. Na primeira parte
tratamos de descrever densamente as movimentações para a implantação do Projeto na cidade de Ijuí, noroeste do RS,
refletindo sobre o repertório de ação dos grupos que protagonizaram a experiência: professores universitários do curso
de Psicologia, História e Direitos Humanos articulados com psicanalistas da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, onde se
destacou a presença de testemunhas- locais, regionais e internacionais- tecendo as articulações entre os pilares da Justiça
de Transição - direito a memória e a reparação (psíquica) -. Na parte final, desde a análise do material coletado em campo,
reflete-se sobre a construção social das vítimas – a luz de referências como Vechhioli.2013,2014, Sarti,2011, Gatti, 2016 e
outros – e, em especial, se pretende conhecer como a burocracia estatal e o corpo de legislação conduz ao silenciamento/esquecimento/não reconhecimento e o lugar do projeto Clínicas do Testemunho no resgate a memória social
submersa, tomando referências em Candau,2002, Pollack,2006, Sarlo, 2005, e o papel da memória e dos testemunhos na gestão do
sofrimento das vítimas.