ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 027: Antropologias da Paisagem: Conhecimentos, Relações e Políticas Multiespécie
Diálogos multiespécies através da lente: fotografia, paisagem e coexistência na Reserva Natural da Rolinha do Planalto
Neste estudo, exploro a intersecção entre fotografia, paisagem e relações multiespécies, tendo como cenário o município de Botumirim, Minas Gerais, Brasil. Através da narrativa de minha jornada como fotógrafo e pesquisador, acompanho o trabalho do fotógrafo e observador de aves, Manoel Freitas, mergulhando na prática da fotografia de aves como uma forma de engajamento com o território. Este trabalho é impulsionado por uma curiosidade inicial sobre a fotografia como meio de conexão com o ambiente, evoluindo para uma investigação acadêmica durante o meu doutorado. A pesquisa se ancora na teoria antropológica que vê o conhecimento como emergente dos "caminhos de vida", proposta por autores como Tim Ingold, Philippe Descola e Bruno Latour, para discutir a fotografia de aves no contexto das relações multiespécies, tendo, neste caso, referências importantes como Donna Haraway e Vinciane Despret. A descoberta da Rolinha do Planalto (Columbina cyanopis) em Botumirim, previamente considerada extinta, e o subsequente influxo de fotógrafos de natureza na região, fornecem um palco para observar como a fotografia atua como uma ponte entre humanos e não-humanos, revelando uma complexa teia de relações e conhecimentos. Neste contexto, discuto a dualidade entre o háptico e o óptico, conforme explorado por Deleuze e Guatarri, e como essa dualidade se manifesta na prática fotográfica. A fotografia de aves, neste sentido, não é apenas um ato óptico de captura de imagens, mas também uma experiência háptica de estar no mundo, um modo de conhecer através da imersão e do envolvimento sensorial com o ambiente e suas espécies habitantes. Através da análise dessa prática fotográfica em Botumirim, argumento que a fotografia de natureza pode ser uma ferramenta de engajamento e de construção de novos conhecimentos. As imagens capturadas não servem apenas como documentação, mas também como pontes para um entendimento mais profundo das interconexões entre seres humanos, outras espécies e o ambiente, incentivando uma reflexão sobre coexistência, conservação e as políticas multiespécies que emergem dessas relações.