Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 060: Experimentos de Ontologia: formas de mundialização desiguais e etnografia como atuar criativo.
(Sobre)viver nas ruínas: deslocamentos e processos de (re)territorialização em contexto de desastre
Como é viver em meio às ruínas do que foi sua comunidade? Essa era a pergunta que ecoava enquanto,
pela primeira vez, caminhei mergulhada no silêncio perturbador dos destroços de casas repletas de lama em
Paracatu de Baixo, subdistrito de Mariana, MG. Em meio à parte central da comunidade, tudo o que se vê são
escombros e ruínas, fruto dos impactos de megaempreendimentos e violências impostas às comunidades atingidas
que foram deslocadas devido ao rompimento da barragem de Fundão da mineradora Samarco (Vale/BHP). Mediante o
maior desastre minerário da história, o caminho a ser trilhado nos escombros daquilo que foi Paracatu de
Baixo, à luz da etnografia, é o de acompanhar os processos cotidianos de uma família composta pela matriarca
e o patriarca, pais de 11 filhos, vítimas que retornaram para sua casa no território (ar)ruinado. Além dos
que voltaram, alguns filhos optaram por ficar em Mariana. Em meio ao desastre socioambiental, a empresa
responsável, Samarco S.A, passa a reger a autonomia das famílias atingidas através da Fundação Renova. Nesse
cenário, o objetivo central é compreender, a partir destas redes familiares e campos sociais construídos, o
que leva alguns membros das famílias atingidas pelo desastre a retornarem e optarem por viver em um
território devastado e condenado pelo rejeito de metais pesados? E como se dá esse cotidiano em territórios
arruinados? Por fim, esta etnografia trata das relações entre o cotidiano, as agências e reinvenções na vida
de famílias em meio aos escombros e o processo em curso de arruinamentos, protagonizados pelos
megaempreendimentos que devastam o sul Global.
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