ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 033: Cartas, cartografias, confabulações e outras correspondências antropoéticas
Nas pegadas do Juruena: paisagens em foco
Das tatuagens, da anatomia do bico do beija flor que encontra a flor, até desfiladeiros, areias ou geleiras a perder-se no infinito, as escalas da paisagem sempre encantaram e estiveram em foco no horizonte dos hominídeos. Assim também a história das cartografias é remota, e por isso atravessa indiferente as nominações com as quais pode(re)mos sucessivamente classificá-las. Capturar a paisagem como conceito é tarefa difícil, figurando desde a pintura, a fotografia, os croquis, mapas/etnomapas, passando pelas disciplinas das geociências, ecologia, paisagismo, urbanismo, arqueologia, arquitetura, cada vez mais, a categoria Paisagem ganha relevo como eixo etnográfico. Na RBA de 2012, a partir do envolvimento direto com o Registro do Ritual Yaokwa como Bem Imaterial Indígena, procuramos contribuir com a construção de aportes para a noção de Paisagens Culturais em correlação aos direitos territoriais, destacando os desafios para a Salvaguarda de Bens Imateriais Indígenas. A partir de 2016 seguimos a reflexão, com o marco legal da PNGATI (2012), problematizando, via constatação da ausência de avanços na garantia ao acesso desses lugares pelas vias das políticas públicas instituídas, a negação de direito ao desenvolvimento e, consequentemente, ao futuro. Deste modo, circunscrita nas interfaces entre a antropologia, geografia e ecologia política, esta rota se realiza a partir de estudos de casos concretos: Tucumzal, Castanhal, Jenipapal, Taquaral, barreiral, Morcegal, Patuazal e tantos outros ‘adensamentos monoespecíficos/ áreas core e/ou ecótonos’, que estão versados em vasta documentação, constituem pleitos em peças e processos administrativos de revisão de limites de TIs (além de denúncias formais reiteradas que clamam por providências efetivas de proteção) que não avançam, enquanto a aceleração exponencial da destruição dessas paisagens manifesta-se a olho nu solapando a sociobiodiversidade do país. Nesta fase, em continuidade aos estudos de longa duração da paisagem pelas lentes da antropologia, avançamos na sistematização, em curso, de análises comparativas dessas representações no Vale do Juruena (MT) via PGTAs, apreendendo esses Planos produzidos pelos indígenas, nos termos de Little (2010), como “etnografias dos conflitos socioambientais”. Essa perspectiva tem permitido prospectar concepções nativas sobre a paisagem em diálogo com contextos acadêmicos, políticos, jurídicos propondo abordagens que exercitam uma “etnografia das intercientificidades (idem,ibidem), em nosso caso, elegendo a categoria -Paisagem- como eixo privilegiado de convergência para férteis reflexões.