Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 023: Antropologia e saúde mental: sofrimento social e (micro)políticas emancipatórias
As crianças laudadas nas escolas e as realidades que governam: Articulações entre vida e morte, na mira dos carimbo médicos
Atuando como Mestranda de Ciências Sociais e Saúde Coletiva, desejo investigar a medicalização da educação a partir dos laudos médicos que se fazem presentes nas escolas municipais da educação infantil no Rio de Janeiro. O ponto de partida desta investigação se deu em minha atuação profissional, num CAPSi (Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil), intrigada e em conflito com a larga demanda das escolas por laudos médicos para que as crianças pudessem frequentar as atividades escolares. Questionava os impactos de uma médica branca poder afirmar em poucas linhas que arriscavam dizer a história clínica daquelas crianças que se davam sobre contextos complexos e marcados por injustiças sociais. O descarte de velhas interrogações e a formulação de novas, com o auxílio precioso das direções partilhadas pelo meu orientador, consigo trazer com a devida centralidade a questão do racismo em minha pesquisa, traçando como objetivo específico investigar a presença dos marcadores de raça nos laudos e no percurso das crianças laudadas em território escolar.
Delimitando como campo desta pesquisa o diálogo intersetorial entre saúde mental e educação infantil e definindo como elemento central de meu objeto de pesquisa os laudos médicos presentes nas escolas, trago no texto a categoria crianças laudadas utilizada, para dizer das crianças que já apresentam laudos ou, ainda, para indicar a necessidade deles em contexto escolar. As infinitas camadas de questionamentos que essa categoria analítica aqui desenvolvida é a mola propulsora de minha pesquisa.
Ao interrogarmos sobre as categorias raça presentes nos laudos médicos que adentram as escolas a partir de suas demandas, faz-se necessário operacionalizá-las na performance de tais documentos, que virá a ser objeto de minha pesquisa. Considerar que esta performance é atravessada pelas hierarquias existentes entre esses papéis e as pessoas envolvidas em sua magnitude me parece parte da principal hipótese que é a de que tais laudos contribuem para a medicalização da educação. Assim, encaminho-me para buscar compreender como esses laudos operam os regimes de visibilidade dessas hierarquias, produzindo determinações e agências no contexto investigado e que podem apontar práticas emancipatórias como formas de resistência.
Este breve ensaio que desejo apresentar a principal hipótese envolvida nesta pesquisa, argumentada a partir do Dispositivo de Racialidade de Sueli Carneiro, que é a de que os diferentes conceitos e fenômenos abordados por este dispositivo podem estar articulados à confecção e performance dos laudos médicos que circulam em chão escolar impactando, como também pretendo argumentar, na rearticulação da vida e da morte das crianças laudadas nas escolas.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
Associação Brasileira de Antropologia - ABA