ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 070: Memórias sensíveis, contramemórias e patrimônios incômodos: políticas, suportes e narrativas nas cidades
Contestar, repensar e gerir o patrimônio: a construção e atuação do Comitê Gestor do Sítio Arqueológico do Cais do Valongo
O presente trabalho tem como proposta acompanhar os processos de consensos e dissensos presentes na gestão coletiva de um bem patrimonializado no meio urbano e que mobiliza memórias sensíveis e de sociabilidade de afrodescendentes na região portuária do Rio de Janeiro. Busco compreender o funcionamento e dinâmica de uma gestão compartilhada realizada por uma miríade de sujeitos que reivindicam o legado do Cais do Valongo para si enquanto questionam o discurso autorizado do patrimônio. Para tal foi realizado trabalho de campo por meio de observação direta das atividades propostas pelo Comitê Gestor do Sítio Arqueológico do Cais do Valongo, com o acompanhamento de suas reuniões, oficinas e eventos correlatos, além de análise de atas e documentos que registram a trajetória e ação do comitê, sobretudo ao longo do ano de 2023. O discurso dos sujeitos e instituições que atuam no Comitê Gestor do Sítio Arqueológico do Cais do Valongo parte principalmente da ideia de impedir os sistemáticos apagamentos e branqueamento da região portuária tendo o Cais do Valongo como norteador de suas ações. Nesse processo, esses sujeitos acabam por elaborar uma noção própria da categoria patrimônio a partir de seus marcadores sociais, das trocas entre si e suas relações com o bem arqueológico e com o território. Essa dinâmica não ocorre sem contradições, disputas ou tensionamentos, olhar para esses processos nos ajuda a compreender como grupos com narrativas silenciadas vem se relacionando e negociando entre si, com o poder público, com instituições como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e com o próprio patrimônio, ou seja, compreender quais estratégias usam para contestar, gerir e se reapropriar de seus bens.