Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 070: Memórias sensíveis, contramemórias e patrimônios incômodos: políticas, suportes e narrativas nas cidades
Quando o corpo é premissa: processos de mediação artístico cultural acionados pela negritude
O trabalho discute sobre as relações entre pessoas educadoras negras, que integravam a equipe educativa
do Museu do Homem do Nordeste (Recife - PE), e o museu. A negritude é aqui entendida como elemento que
atravessa o trabalho de mediação cultural e pode figurar enquanto uma experiência de autoinscrição de seus
agentes sobre a narrativa expográfica. Tais reflexões versam a escrevivência e a autoantropologia enquanto
proposições metodológicas e são materializadas através do diálogo entre relatos de vida de agentes desse
campo com memórias resgatadas pela própria pesquisadora, que também exerceu a função de educadora no espaço
estudado, bem como hoje atua na mesma função em uma outra instituição museal vizinha.
O Museu do Homem do Nordeste existe há 45 anos, enquanto um museu regional histórico e antropológico, foi
planejado e criado por Gilberto Freyre com a missão de reunir um acervo capaz de documentar o passado e os
cotidianos da vida das pessoas do Nordeste. É aqui, no setor educativo deste museu, onde estão os agentes
dessa pesquisa, que se dedicam especificamente à engajar entretenimento, reflexão e compartilhamento de
conhecimentos nesse espaço.
Esses profissionais, que idealizam, elaboram e executam tais práticas junto aos públicos do museu, são
fundamentais para a compreensão da execução e prática do que é um museu e ao que ele serve. O recorte
racial, por sua vez, é tomado enquanto eixo estruturante deste trabalho, já que tensiona o lugar desses
agentes, enquanto profissionais negros, em um âmbito onde a negritude é basilamente abordada sob a ótica
freyreana, cuja formulação de pensamento é marcada pela perspectiva da Casa Grande.
Inferir sobre a autoinscrição enquanto característica da ação de pessoas educadoras que atuam na mediação
cultural, negras, no contexto deste museu, parte de um exercício de escrevivência que, segundo Conceição
Evaristo, estabelece o imbricamento de suas próprias experiências e também das experiências comuns à
população negra do Brasil - especialmente as mulheres negras - no ato de escrever.
Assim, esse trabalho propõe uma reflexão centrada na análise sobre o mundo contemporâneo a partir da
experiência negra, como inspira o pensamento de Achille Mbembe (2014). O nosso interesse é olhar para as
relações sociais considerando as subjetividades de quem as pratica; as experiências e memórias pessoais e
coletivas, se tornam parte constituinte da relação de conhecimento aqui construída.