Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 027: Antropologias da Paisagem: Conhecimentos, Relações e Políticas Multiespécie
Entre poluições e memórias: as narrativas em torno do rio Ipojuca
Em tempos de negação do comitê das Ciências Geológicas para decretar a nova era denominada antropoceno, é possível percebermos cada vez mais o sobreaquecimento, as mudanças aceleradas e drásticas que perturbam as paisagens do planeta. A presente pesquisa, de caráter inicial, não pretende focar em contextos internacionais de crise ambiental, mas o toma enquanto plano de fundo, redimensionando o foco para um problema local que irrompe no território pernambucano, o Rio Ipojuca, considerado o terceiro rio mais poluído do Brasil, segundo o IBGE (2010). Devido à sua larga extensão que atravessa mais de onze cidades, faço o recorte geográfico na cidade de Caruaru, que para além do turismo, contém nas suas águas uma quantidade massiva de resíduos químicos e toneladas de lixo. Afetando não somente os humanos, mas também as plantas e os animais (Ver ALYNE COSTA, 2015), a poluição das infraestruturas atuantes na cidade, se ramifica e deixa os rastros da destruição que prejudica a população local. Assim sendo, busco, através do fazer etnográfico, compreender as realidades dos seres humanos e não humanos, as ontologias (Ver KOHN, 2015), entre o discurso científico e dos moradores, em torno do rio Ipojuca. Por meio disso, podemos constatar lembranças de um tempo que ecoa nas memórias das pessoas – atividades de pesca, lazer, doenças, bem como investigar as atuais relações e práticas permeadas de saudosismo e dos desmontes ontológicos. Desse modo, quais narrativas estão sendo construídas a partir desse problema ambiental? É possível falarmos de ontologia política (ESCOBAR 2015)? De “mal entendidos produtivos”? (Ver BRUCE ALBERT, 1995). A visão de Tsing (2020) para o antropoceno é de um fragmento, uma mancha que deixa a sua marca na paisagem, como os subúrbios, por exemplo. O pesquisador deverá estar atento na sua contribuição etnográfica, não somente interessado em acrescentar detalhes pormenores naquilo que já foi estabelecido, até por outras ciências como as da área da natureza, mas de “refazer” o que entendemos do antropoceno. Desse modo, provocamos uma abertura para a compreensão das desigualdades existentes no campo, em que a justiça social não deverá ser desentrelaçada na nossa análise (TSING, 2020).