Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 102: Transições democráticas e controle social: repensando marcações temporais
Violência, invisibilidade política e apagamento de rastros na República brasileira - anotações sobre a
produção da memória sobre Canudos e os conselheristas
Canudos foi o primeiro enfrentamento armado da Repúblcia brasileira. Como tal construiu as marcas
inaugurais e constitui a forma política pela qual o estado brasileiro, na sua fase/face de modernização,
compreendeu e lidou com as revoltas populares ao longo deste século e meio. As formas do combate ao arraial
do Belo Monte/Canudos que articulavam exército e polícias estaduais, não se resumiram ao enfrentamento
armado e ao massacre da cidade conselherista: depois de rendida, Belo Monte foi queimada, seus habitantes
degolados e a memória daquela revolta constante e sistematicamente apagada - seja pelo silenciamento
sistemático em torno do massacre perpetrado, seja pela construção de uma narrativa da guerra contra Canudos
como um dispositivo de instauração e consolidação do progresso, do desenvolvimento e da democracia contra a
"barbárie da revolta conselherista".
Este texto procura explorar as relações entre a construção do silenciamento do conflito, violência (em
múltiplas dimensões) e a construção da democracia na passagem para a República, como mote e estratégia
política que se firma como motor da construção e da formação social no período.
Exploraremos para tal os relatos da Guerra contra Canudos deixados pelos descendentes dos Conselheristas, e
um conjunto de imagens produzidas por fotógrafos aos longo de mais de 60 anos, contrapostos aos textos que
se tornaram a versão ofocial do conflito, escritos por Euclides da Cunha, cotejados pelas imagens de Flávio
de Barros.
Busca-se explorar a hipótese de que a perpetuação de uma sociabilidade autoritária e violenta como a
brasileira supõe a construção de um Outro em negativo, a um só tempo bárbaro, violento e invisível
politicamente.
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